SETE DE SETEMBRO: DO GRITO DO IPIRANGA AO SILÊNCIO DAS CONSCIÊNCIAS
POR TIAGO HÉLCIAS
Hoje, 7 de setembro, o Brasil celebra sua independência. Mas a verdade incômoda é que, dois séculos depois do grito do Ipiranga, a sensação é de que vivemos não em um país livre, mas em uma república de consciências aprisionadas.
O que vemos hoje não é democracia plena, mas uma ultrapolarização sufocante. O Brasil se transformou num campo de batalha em que não basta discordar — é preciso ser combatido, silenciado, ridicularizado. Os poderosos de plantão ditam as regras e estabelecem uma lógica perversa: quem não pensa igual precisa ser colocado contra a parede. Não é divergência, é confronto. Não é debate, é cancelamento.
De fora, a visão é ainda mais dura. Estou em Portugal desde 2022, acompanhando cada movimento dessa novela brasileira. É impressionante como, de longe, a fotografia fica mais nítida: o país parece viver em estado de guerra permanente, onde famílias se dividem, amizades se desfazem e a política tomou o lugar da fé, com direito a dogmas e heresias.
Mas onde está a tal independência nisso tudo? Como falar em liberdade se até pensar diferente virou motivo de perseguição? O Brasil que um dia sonhou em ser soberano, hoje parece dependente das amarras ideológicas, dos conchavos políticos e da manipulação das instituições.
E, no entanto, mesmo diante desse cenário, ainda sobra amor. Amor pelo povo que continua resistindo, que encontra força no meio do caos, que insiste em acreditar que o Brasil não precisa ser prisioneiro das próprias elites.
A verdadeira independência brasileira talvez esteja em algo simples: a coragem de discordar sem ser destruído. O direito de pensar, de falar, de escolher — sem medo de retaliação. Até lá, o grito de “Independência ou Morte” segue ecoando, mas como uma ferida aberta, lembrando que a liberdade ainda não é para todos.
Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.
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