QUEM TEM MEDO DE ANDRÉ MOURA? O JOGO POR TRÁS DA “DENÚNCIA” NA CPMI DO INSS

POR TIAGO HÉLCIAS


De longe, aqui de Portugal, acompanhando a CPMI do INSS, é impossível não rir — com ironia, claro — do roteiro que se desenha na terra dos cajus.

De repente, o nome de André Moura, ex-deputado federal por Sergipe, reaparece na cena política nacional, citado como o “dono do INSS”.

Bonito título, não? Só faltou combinar com os fatos.

Quem trouxe o carimbo foi o deputado Rogério Correia (PT-MG), durante uma das sessões mais barulhentas da CPMI.

E, veja bem, o Brasil é grande, mas não tão grande a ponto de justificar tamanha coincidência: o homem que lança a acusação é do mesmo partido do atual senador Rogério Carvalho, adversário direto de André em Sergipe.

Adivinhe quem é o pré-candidato que hoje figura entre os três mais bem colocados nas pesquisas para o Senado e, se a eleição fosse hoje, muito provavelmente estaria eleito?

Pois é. André Moura.

E adivinhe quem perderia o sono com isso? Exatamente.

Coincidências que só a política explica

Vamos falar de coincidências, já que é nelas que a narrativa se apoia.

Coincidência número um: três requerimentos pedindo a convocação de Moura para depor na CPMI foram protocolados desde agosto. Nenhum aprovado.

Coincidência número dois: os autores dos requerimentos são dois parlamentares do PT — um de Minas Gerais e outro do Rio Grande do Sul — que, curiosamente, têm um interesse súbito e detalhado pela política sergipana.

Coincidência número três: a denúncia surge logo depois de Moura se posicionar contra uma ampliação de palanques locais que favoreceria… adivinhe quem?

Sim, o próprio senador Rogério Carvalho.

Coincidência número quatro — e talvez a mais saborosa: em 2018, Moura perdeu o Senado por menos de 50 mil votos para… Rogério Carvalho.

Parece roteiro, mas é apenas o velho Brasil político sendo ele mesmo.

Quando uma CPI se transforma em palanque

A CPMI do INSS nasceu com o objetivo nobre de investigar irregularidades. Mas, como sempre, o palco é bom demais para ser desperdiçado.

O que deveria ser um fórum de apuração virou um campo de batalha entre narrativas.

De um lado, aliados de Lula tentando provar que o escândalo é herança do governo anterior.

Do outro, aliados de Bolsonaro gritando que a farra aumentou no governo petista.

E, no meio do fogo cruzado, André Moura — que, até onde se sabe, não é governo, não é oposição e não tem cargo público.

Mas tem uma coisa que os outros dois lados temem: capital político.

E, no Brasil, ter capital político é mais perigoso do que ser investigado.

O jogo é outro

Quem já esteve no comando de campanhas — e eu falo com a propriedade de quem viveu esse bastidor por dentro — sabe como as coisas funcionam.

Primeiro, você testa uma narrativa.

Depois, observa como ela repercute.

Se cola, amplifica. Se não cola, muda o foco.

No caso de André Moura, a estratégia é antiga: vincular o nome a um escândalo, plantar o rótulo, e deixar que a opinião pública faça o resto.

Simples, barato e eficiente.

O detalhe é que, até agora, não existe uma única prova pública que ligue André Moura diretamente ao esquema investigado.

Nenhuma convocação aprovada.

Nenhum documento novo.

Nenhum depoimento que o envolva formalmente.

Mas o estrago simbólico pode ser inevitável — e é disso que o marketing político vive: do ruído, não da prova.

Coincidência ou cálculo?

Podem chamar de coincidência.

Eu, sinceramente, chamo de movimento ensaiado.

Um roteiro pensado, estrategicamente cronometrado, que tenta transformar a CPMI em palanque antecipado.

Afinal, André Moura é super competitivo, tem recall, estrutura, e uma base eleitoral sólida.

O que ele não tem, neste momento, é sossego — e isso, meus caros, é um bom sinal.

Ninguém tenta derrubar quem já está no chão, já dizia meu avô.

Entre a prudência e a perfídia

A prudência manda esperar.

Mas a experiência ensina que, na política, ninguém joga pedra em poste apagado.

Quando começam a surgir “coincidências” demais, quando dois deputados de fora do estado se tornam repentinamente especialistas em Sergipe, e quando o timing da acusação coincide com a subida nas pesquisas…

Desculpem, mas não dá pra chamar de acaso.

O jogo começou.

E como todo bom estrategista sabe — às vezes, a primeira jogada é simplesmente plantar a dúvida. Veremos as cenas dos próximos capítulos.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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