TANGO DA CONDENAÇÃO: A JUSTIÇA QUE DANÇA CONFORME O RÉU

Por Tiago Hélcias

Preparem-se, senhoras e senhores! O circo da política latino-americana voltou com mais uma de suas apresentações grotescamente geniais. No picadeiro da vez: a rainha do peronismo em queda livre e o show à parte da justiça que, no Brasil, mais parece um número de mágica mal ensaiado. Bem-vindos à tragicomédia da América Latina — onde os corruptos dançam tango e sambam na cara do povo.

Caso Vialidad: Cristina, a Musa do Asfalto e da Impunidade Gourmet

Argentina, terra do bom vinho, do Messi… e da impunidade temperada com sofisticação. Cristina Fernández de Kirchner, a diva decadente da política portenha, teve sua sentença de seis aninhos de prisão em casa confirmada pela Suprema Corte no dia 10 de junho de 2025. O motivo? Fraude administrativa com prejuízo ao Estado. O nome da série? “Caso Vialidad”. Podia muito bem estar na Netflix — categoria: drama político com final previsível.

A trama é quase poética: uma ex-presidente favorece o amigão do peito (ou laranja de luxo?), Lázaro Báez, com contratos milionários de obras públicas que, veja só, quase nunca saíram do papel. A empresa Austral Construcciones, criada convenientemente antes da posse de Néstor Kirchner, ganhou 79% dos contratos na província de Santa Cruz. Resultado? Obras inacabadas, dinheiro evaporado e uma Argentina cada vez mais buracada — literalmente e moralmente.

Mas Cristina, firme no salto, se diz vítima de lawfare. Segundo ela, não há provas, só perseguição. Afinal, o que seria da América Latina sem o velho roteiro da “mártir política”? Ela ainda defende que um presidente não pode ser responsabilizado por licitações — porque, claro, quem manda na bagaça é sempre o estagiário do gabinete, né?

E, como todo bom thriller latino, tem plot twist: a tentativa de assassinato em 2022, quando uma arma falhou a centímetros do seu rosto. Um milagre? Um aviso? Ou apenas mais um capítulo dramático para reforçar a lenda da mártir incompreendida? A resposta, meus caros, fica a gosto do freguês.

Caso Lula: O Fênix Brasileiro e a Justiça Que Adora um Jeitinho

Do outro lado do Equador, temos outro ícone da política performática: O grande, o inigualável, Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que saiu da cadeia direto para o Planalto — sem escalas. Condenado em três instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro, cumpriu 580 dias na cadeia. Mas como bom personagem latino, ressurgiu das cinzas, blindado por uma decisão judicial que faria qualquer roteirista de novela levantar da tumba para bater palmas.

A condenação veio no caso do triplex, depois no sítio, depois nas doações. Tinha prova de tudo: planilha, e-mail, depoimento, até o famigerado PowerPoint. Mas… nada disso impediu a reviravolta. Em 2021, o ministro Edson Fachin anulou as condenações porque Curitiba não era o “foro adequado”. Traduzindo: não foi inocentado, apenas julgado no endereço errado. É como cancelar um casamento porque a cerimônia foi na igreja errada.

E pra coroar, o STF declarou o juiz Sergio Moro suspeito. É isso mesmo: depois do jogo, expulsaram o árbitro e anularam o placar. Resultado? Lula livre, leve e elegível. Entrou candidato, saiu presidente e ainda seu advogado de defesa, virou Ministro do STF. E o povo… aplaudiu. Ou chorou. Ou se acostumou. No Brasil, é difícil diferenciar.

Justiça para Gregos, Troianos e Latinos Desavisados

Na Argentina, Cristina vai pra prisão domiciliar e vira inelegível. No Brasil, Lula vira presidente. Na terra do tango, há punição — ainda que tardia e VIP. Na terra do samba, há manobras, tecnalidades, trambicagens  e uma corte suprema que parece saída de um curso de teatro. A diferença é brutal. Aqui, a justiça é mais interpretativa que peça de Shakespeare.

Lembram do Mensalão? Todos soltos. Lava Jato? Um fiasco com final meloso: dos 42 políticos denunciados, só um está na cadeia. O resto? Vive bem, obrigado. Indultos, progressão de regime, recursos infinitos. A Lava Jato, que prometia ser a Operação Mãos Limpas brasileira, virou um “Lava Rápido” onde os sujos saíram mais limpos do que entraram.

Inelegibilidade: Um Conceito Flexível com Passos de Dança

Enquanto Cristina amarga a inelegibilidade perpétua, no Brasil o conceito é mais elástico. Leis mudam, prazos somem, interpretações brotam. Aqui, um político inelegível hoje pode virar candidato amanhã com um bom advogado e uma boa narrativa. O sistema jurídico brasileiro é como dança contemporânea: cada um entende do seu jeito, e quem reclamar não entendeu a arte.

Final Amargo: O Tango da Prisão Domiciliar e o Samba da Reeleição

A história de Cristina Kirchner termina com tornozeleira. A de Lula, com faixa presidencial. A justiça da América Latina continua sendo uma comédia involuntária: às vezes dura, às vezes cega, quase sempre incoerente. Mas nunca entediante.

Quem diria, enquanto a Argentina, entre tapas e tangos, tenta impor algum limite ao poder, o Brasil continua abraçado ao seu jeitinho, ao seu perdão judicial, à sua nostalgia de heróis reciclados. Na Terra de Vera Cruz, a única certeza é que a roda gira, os protagonistas mudam, mas a peça continua — com os mesmos erros de roteiro.

E o povo? Bom… o povo assiste. Às vezes indignado, às vezes anestesiado. Mas sempre pagando ingresso, e caro. 

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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