TRÊS HOMENS E UM ESCÂNDALO: RICARDO, EDVALDO, LAÉRCIO E SUPOSTO DESVIO DE R$ 24 MILHÕES EM ARACAJU

POR TIAGO HÉLCIAS


De novo, Senador? Na próxima já pode pedir música no fantástico.

Na política sergipana, há personagens que não precisam nem trocar de figurino para aparecer no próximo episódio. O senador Laércio Oliveira (PP) é um deles. Mais uma vez, seu nome e suas empresas voltam à ribalta — e, na próxima, já pode pedir música no Fantástico.

Aqui no blog, a primeira denúncia já foi esmiuçada — aquela que mostrou como empresas ligadas ao senador apareceram no destino de emendas federais

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Agora, o roteiro se repete, mas com um tempero municipal: a acusação parte diretamente do presidente da Câmara de Aracaju, Ricardo Vasconcelos (PSD), e envolve também o ex-prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) — apelidado por alguns opositores, com ironia, de “o prefeito perfeito”.

A nova denúncia — e o dinheiro que mudou de endereço

Na sessão do dia 6 de agosto de 2025, Vasconcelos foi à tribuna e, abrindo aspas, disparou:

“O dinheiro das emendas parlamentares é algo sagrado, não se pode pegar e fazer o que se bem entende com ele. Edvaldo você se meteu em encrenca grande, porque você cometeu pedalada. O dinheiro pagou contrato administrativo.”

Segundo o presidente da Câmara, Ricardo Vasconcelos, a engenharia financeira teria acontecido em pleno 2024 — e com a delicadeza de um elefante numa loja de cristal. Verbas carimbadas das emendas impositivas — dinheiro público com destino certo e assinado —, que deveriam reforçar a Secretaria Municipal de Saúde e viabilizar o tão prometido Centro de Imagens no Hospital Fernando Franco, teriam, segundo ele, feito uma curva não prevista no GPS orçamentário. Em vez de comprar equipamentos para diagnósticos e exames, o recurso — parte dos R$ 24,5 milhões reservados para hospitais municipais, de um total de R$ 63 milhões em emendas de 2024, conforme dados oficiais da Câmara — teria sido redirecionado, sem autorização, para a nada glamourosa missão de cobrir contratos administrativos. Uma pedalada digna de replay em câmara lenta.

E é aí que entra o ingrediente conhecido da receita: de acordo com Vasconcelos e reportagens da imprensa sergipana, uma das empresas que receberam recursos nesse “remanejamento” seria a MultServ — aquela mesma com sócios ligados à família do senador Laércio Oliveira.

A tal MultServ — velha conhecida

Para quem acompanha o enredo, a MultServ não é personagem coadjuvante. Segundo o NE Notícias (27/05/2024), a empresa mantém contratos de longa data com órgãos públicos sergipanos e, em uma licitação recente, teria saído de 7º lugar para vencer, após a desclassificação das seis primeiras colocadas.

A relação com o senador vem de laços societários familiares: tio e sobrinho de Laércio estão na estrutura da empresa, que já foi beneficiada com contratos milionários — alguns por dispensa de licitação, como revelou o jornal A Tarde em 13/05/2024.

Agora, o novo capítulo descrito por Vasconcelos coloca a MultServ mais uma vez na rota de verbas públicas. A diferença? Desta vez, segundo a denúncia, o dinheiro não veio de Brasília, mas sim do cofre municipal de Aracaju.

E o ex-prefeito?

O ex-prefeito Edvaldo Nogueira, citado nominalmente na denúncia, optou pelo silêncio. Já a ex-secretária de Saúde, Waneska Barboza, afirmou ao G1 que pediu exoneração do cargo em abril de 2024 para disputar vaga na Câmara e que a execução das emendas ocorreu após sua saída.

Enquanto isso, Vasconcelos garante que “as devidas providências serão tomadas”. E quem acompanha política sabe que essa frase pode significar desde uma representação no Ministério Público até… nada.

Do federal ao municipal — um padrão que se insinua

Primeiro, as reportagens mostraram as ligações das empresas de Laércio com emendas federais. Agora, a denúncia do presidente da Câmara de Aracaju expõe, segundo ele, uma manobra envolvendo emendas municipais.

Dois cenários, dois orçamentos diferentes, mas nomes que se repetem. Coincidência? O roteiro político local anda cheio delas. E, como manda a prudência.

O próximo capítulo

Se as palavras de Ricardo Vasconcelos encontrarem eco no Ministério Público e as provas confirmarem o enredo, o roteiro pode ganhar um capítulo jurídico bem indigesto para o “prefeito perfeito” — agora supostamente pré-candidato ao Senado.

Pela Lei nº 8.429/1992, mexer no destino de emendas carimbadas sem o aval da Câmara pode ser visto como ato de improbidade administrativa. E, dependendo da trilha que o processo seguir, há desde multas gordas e obrigação de devolver o dinheiro até a suspensão dos direitos políticos.

Traduzindo para a realidade eleitoral: uma condenação colegiada antes do pleito pode colocar Edvaldo no rol dos inelegíveis pela Lei da Ficha Limpa, fechando-lhe a porta da campanha antes mesmo de abrir o comitê.

Um aviso aos navegantes

Antes que algum advogado afoito já prepare a petição, vale o lembrete: aqui não acusa ninguém. O que fazemos é narrar, com lupa, aquilo que a imprensa sergipana já publicou e que foi dito por quem denuncia.

Trabalha-se com fatos, segundo as fontes e de acordo com declarações oficiais, sem emitir juízo de valor. Aqui não se antecipa sentença — apenas se conecta os pontos de um quebra-cabeça público que, convenhamos, anda com peças que se repetem demais para ser só coincidência.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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