A ESTRATÉGIA DO PT? COMO ROGÉRIO CARVALHO TENTOU REDIRECIONAR O ROMBO DO INSS, SEGUNDO A CPMI
POR TIAGO HÉLCIAS

Quem acompanha política lê sinais. Eu, então, que estou nessa estrada há quase três décadas — entre redações, campanhas, assessorias e especialização em marketing político — já vi estratégia nascer de todo tipo de ambiente: dos bastidores mais discretos aos mais barulhentos. Sei o que é estar do outro lado do balcão, sei como as narrativas são fabricadas, como se criam vilões, heróis, crises e cortinas de fumaça.
E, por isso mesmo, nada mais me surpreende quando percebo movimentos que, à primeira vista, parecem desconexos, mas que, com um pouco de experiência, revelam o que realmente são: peças de um tabuleiro montado com objetivos muito específicos — muitas vezes mais eleitorais que éticos, mais estratégicos que lógicos.
É nesse contexto, e com esse olhar técnico, que observo o que vem acontecendo na CPMI do INSS. O que emerge ali, segundo documentos oficiais, falas públicas de parlamentares e análises da imprensa, parece menos uma busca transparente pela verdade e mais a construção de uma narrativa política que mira diretamente as eleições de 2026.
A insistência que chamou atenção
Nos últimos meses, setores do PT têm insistido, de maneira quase obstinada, em conectar o secretário de Governo do Rio e pré-candidato ao Senado por Sergipe, André Moura, ao escândalo dos descontos indevidos em aposentadorias.
Essa insistência ocorre apesar de um ponto constantemente reafirmado pelas investigações: não há citação dele pelos investigados, não há indiciamento pela PF, não há apontamento da CGU e não existe rastro financeiro ligando seu nome ao caso, conforme os próprios documentos públicos.
Mesmo assim, o discurso se repete.
Por quê?
Segundo análises da imprensa local e informações de bastidores, essa narrativa teria sido gestada dentro do núcleo político do senador Rogério Carvalho, que — conforme denunciado pelo jornalista Cláudio Nunes — buscaria colar em André Moura o rótulo de “Dono do INSS”, não por provas, mas por conveniência eleitoral.
Uma estratégia conhecida: criar um antagonista para acelerar o desgaste de um possível adversário forte na disputa de 2026.
O episódio que virou o jogo
Na sessão da CPMI do dia 1º de dezembro, o deputado Alencar Santana (PT/SP) utilizou um Habeas Corpus concedido pelo STF a um investigado para, novamente, tentar aproximar o nome de André Moura do caso. É o famoso “por tabela”: se o investigado é de Sergipe, o ex-líder do governo Temer seria automaticamente responsável.
Uma associação frágil, segundo juristas e os próprios autos.
Só que, enquanto esse discurso ganhava palco, outra revelação — essa sim embasada em documentos — veio à tona dentro da própria CPMI.
De acordo com o relator, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil/AL), no qual conheço pessoalmente, dados enviados pelo Coaf e pela Receita Federal mostram um fluxo financeiro relevante vindo de entidades investigadas por descontos indevidos em aposentadorias. E, segundo ele, esse dinheiro teria como destino estruturas ligadas a um dirigente nacional do PT.
Essa afirmação, feita em sessão pública, mudou instantaneamente o rumo da narrativa.
A rota do dinheiro — conforme o que foi apresentado oficialmente
Segundo o que o relator expôs com base nos documentos:
A empresa Datacore Informática, pertencente ao dirigente petista Ricardo Bimbo Tróccoli, teria recebido cerca de R$ 11,1 milhões provenientes de entidades investigadas:
• R$ 8,3 milhões da ADS
• R$ 1,4 milhão da G8 Cursos
• R$ 121 mil da Sempre Empreendimentos
Além disso, ainda de acordo com os dados mencionados, aproximadamente R$ 320 mil teriam sido depositados diretamente nas contas pessoais do dirigente.
Essas informações não são interpretações, mas sim dados atribuídos ao Coaf e à Receita Federal, apresentados pela própria CPMI.
Ao ser questionado, conforme registraram veículos da imprensa, Ricardo Bimbo afirmou não se recordar dos serviços prestados que justificariam os valores.
As perguntas levantadas pelo contexto — não por mim
A partir do que foi apresentado oficialmente, surgem questionamentos que qualquer observador faria:
1. A insistência política em mirar André Moura serviria apenas para o debate eleitoral ou também funcionaria como uma cortina de fumaça para que não se olhasse para movimentações financeiras envolvendo dirigentes do próprio partido?
2. Como conciliar o discurso de combate à fraude com o fato de que, segundo documentos mencionados pelo relator, valores expressivos teriam chegado a estruturas partidárias por meio de empresas investigadas?
3. Quem realmente está construindo narrativas: quem aponta a ausência de provas ou quem tenta desconsiderar dados oficiais apresentados à CPMI?
E o que fica disso tudo?
A CPMI ainda está em curso, e só a Justiça poderá definir responsabilidades individuais.
Mas, até aqui, um fato é inegável — e isso está nos documentos, nas falas dos parlamentares e nas próprias investigações públicas:
idosos foram prejudicados.
E isso, por si só, já é devastador.
O que se busca agora — não por mim, mas pela comissão, pelos órgãos de controle e pela opinião pública — é entender quem se beneficiou e de que forma.
Se as informações levantadas se confirmarem, poderemos estar diante de um dos episódios mais graves de manipulação narrativa para ocultar um problema ainda mais sério.
Eu apenas conecto o que foi dito, apresentado e documentado.
E deixo ao leitor, você, o papel de interpretar — sempre amparado no que está oficialmente nos autos e no que a CPMI já tornou público.
Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.
Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.
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