QUANDO A INOVAÇÃO GANHA SOTAQUE: O BRASIL ROUBA A CENA NO WEB SUMMIT 2025 EM LISBOA

POR TIAGO HÉLCIAS

Lisboa amanheceu diferente hoje. As ruas estão tomadas por gente de todas as partes do mundo falando alto, misturando idiomas, sotaques e ideias. É o início de mais uma edição do Web Summit, o maior evento de tecnologia e inovação da Europa — e, há alguns anos, uma espécie de termômetro sobre o futuro digital do planeta.

Criado em Dublin, o evento migrou para a capital portuguesa em 2016 e desde então transformou Lisboa em uma espécie de “Silicon Valley temporário”, onde startups, investidores, jornalistas, gigantes da tecnologia e curiosos se encontram para discutir o que vem por aí: inteligência artificial, sustentabilidade, mobilidade, futuro do trabalho, segurança digital… e, claro, o papel das pessoas no meio de tudo isso.

É, de fato, uma imersão. E quem caminha pelos pavilhões da Altice Arena e da FIL, espaços que abrigam o Web Summit, percebe logo que o evento é mais do que uma feira: é um ecossistema pulsando em tempo real.

Mas há algo especial nesta edição de 2025. Um certo sotaque que se espalha pelos corredores, pelos pitches e pelas conversas de café: o sotaque brasileiro.

O Brasil chegou com força — e propósito

Este ano, o Brasil desembarcou em Lisboa com a maior delegação de sua história no evento: mais de 370 startups. É gente de todos os cantos do país, apresentando soluções, buscando parcerias e mostrando que inovação também fala português do Brasil.

O que mais chama a atenção é a diversidade. Não apenas de ideias, mas de origens. Há empreendedores do Nordeste, do Norte, do Centro-Oeste, do Sul e, claro, do Sudeste. Essa pluralidade não é por acaso — é fruto de uma curadoria cuidadosa, pensada pela ApexBrasil e pelo Sebrae, que vêm incentivando a internacionalização de negócios e o fortalecimento da imagem do país como potência criativa e tecnológica.

A presença brasileira cresceu tanto que, em número de CEOs, já ultrapassa a de Portugal, país anfitrião. E isso não é pouca coisa. É símbolo de uma virada de chave: o Brasil deixa de ser mero espectador da inovação global e passa a atuar como agente ativo, oferecendo soluções, tecnologia e talento.

Mais que números, representatividade

Há algo muito simbólico nesse movimento. Durante anos, a inovação brasileira foi vista de forma concentrada — entre Rio e São Paulo, com raras exceções. Agora, o cenário é outro. A delegação que representa o país aqui mostra startups que nascem em cidades médias, muitas delas fora do radar tradicional, mas cheias de criatividade e coragem para disputar espaço global.

E não é só geografia que mudou. É também a liderança. Cada vez mais mulheres estão à frente dessas empresas, mostrando que o setor tecnológico não é território exclusivo de homens. Há startups lideradas por mulheres do Nordeste, do interior do Sul, da Amazônia — e todas com um discurso muito mais humano, inclusivo e conectado à realidade brasileira.

Essa mistura é a cara do Brasil. Caótica, plural e incrivelmente fértil.

O pavilhão que virou ponto de encontro

O Pavilhão Brasil, dentro da Web Summit, é hoje um dos espaços mais movimentados. Tem pitch acontecendo a todo momento, reuniões de negócios, painéis, cafés improvisados e muita troca de experiência.

Para mais de cento e vinte empresas, essa é a primeira vez num palco internacional. E é bonito ver o brilho no olhar de quem está dando esse salto: o desejo de ser ouvido, de mostrar que há soluções inteligentes surgindo em solo brasileiro — muitas delas pensadas justamente para lidar com os desafios sociais que o país enfrenta todos os dias.

É o Brasil se apresentando ao mundo não só como mercado consumidor, mas como criador de tecnologia.

Um novo tempo para o Brasil que inova

A Web Summit é, antes de tudo, um espelho. O que se reflete por aqui é a imagem de um país que aprendeu a transformar dificuldade em oportunidade. Ver o Brasil tão presente — e tão bem representado — em um evento dessa dimensão é motivo de orgulho.

Porque inovação, no fundo, não é só sobre tecnologia. É sobre gente. É sobre olhar para os problemas e enxergar soluções. E nisso, convenhamos, o brasileiro é especialista.

Lisboa pode ser o palco, mas a cena — este ano — tem muito de nós, brasileiros.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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