EMÍLIA CORRÊA Vs CANDISSE CARVALHO: UMA DISPUTA PESSOAL, POLÍTICA E PERIGOSA

POR TIAGO HÉLCIAS 


Há histórias que só fazem sentido para quem viveu os bastidores. A política sergipana, por mais que pareça um teatro a céu aberto, sempre escondeu suas verdadeiras costuras que muitas vezes acontecem nos corredores estreitos das emissoras de TV, nos camarins apertados e nas redações em que o ar pesa mais que a pauta do dia.

Por isso, quando vejo Emília Corrêa e Candisse Carvalho se engalfinhando publicamente, não consigo enxergar apenas duas figuras políticas numa disputa digital e agora  judicial.

Eu vejo o passado — o meu, o delas — voltando com força.

Importante dizer que eu conheço essas duas personagens antes que elas fossem as versões públicas que hoje viralizam nos vídeos, nos cortes, nas manchetes.

E talvez seja por isso que este embate me parece tão… desconfortável.

CANDISSE: A REPÓRTER QUE JÁ CARREGAVA UMA FÚRIA ANTIGA

Conheci Candisse quando ela ainda era Matos, muito antes de adotar o sobrenome que hoje a projeta na política.

Na TV Sergipe, ela era a repórter de temperamento forte, daquelas que entravam na redação já em estado de alerta.

Não fazia questão de agradar ninguém.

Não era do tipo que fazia parte do grupo, do cafezinho, da fofoca de corredor.

Ela era intensa — e intensidade demais, em televisão, sempre incomoda. Eu bem sei disso. 

Quando nos reencontramos na TV Atalaia anos depois, os traços eram os mesmos.

Eu apresentava o Balanço Geral Sergipe, ela rodava as ruas.

Era a mesma profissional de sempre: direta, ácida, pouco tolerante, quase sempre pronta para o embate.

E isso não é crítica — é constatação.

Candisse sempre teve esse modo de existir no mundo: ocupar o espaço que quer, mesmo que à força, com uma certa dose de ambição. 

Com o tempo, essa força encontrou outro destino.

Casou-se com Rogério Carvalho, senador, experiente, estratégico, velho conhecido das articulações pesadas da política.

Virou Candisse Carvalho e, junto com o novo sobrenome, se transformou na “melhor amiga” de Lula e ganhou de lambuja um novo projeto de vida — um projeto claramente político, claramente arquitetado.

Ela “abriu mão” do jornalismo e abriu as portas da política pelas mãos do marido.

Não foi orgânico.

Não foi gradual.

Foi cirúrgico.

A velha herança política brasileira. 

Foi catapultada candidata à prefeitura de Aracaju como quem é empurrado ao palco sem ensaio, mesmo sem ter nenhum capital eleitoral. 

E, depois da derrota, ocupou o espaço que lhe sobrou:

oposição digital diária, barulhenta, persistente — e muitas vezes destrutiva. Afinal, é preciso se manter na vitrine. 

EMÍLIA: A MULHER QUE SABIA O QUE ERA SER ALVO

Já Emília, eu conheci em um espaço muito mais intimista: o camarim da TV Atalaia.

Ali, nas poucas vezes que dividíamos as horas de gravação, maquiagem, falávamos de bastidores, de perseguições, de política — e daquilo que não aparece na televisão. Sempre recebi o seu apoio diante de várias questões colocadas no BGSE. 

Foi numa época em que eu era perseguido duramente pela gestão do “prefeito perfeito”.

E Emília sabia.

Ela conhecia a pressão.

Ela conhecia a sensação de ser esmagado por quem tem mais poder do que você.

E sempre reagiu a isso com indignação, com força, com aquele senso de justiça que ela carregava desde a Defensoria e que carregava no exercício do mandato legislativo municipal. 

Essa Emília, ao que parece, existia antes de virar a primeira mulher a comandar a Prefeitura de Aracaju.

Antes de furar a bolha que sempre favoreceu os mesmos.

Antes de virar alvo do establishment político que nunca a engoliu.

Por isso me causa certo estranhamento — quase tristeza — vê-la agora usar as mesmas armas das velhas raposas, nesse caso, usar a Procuradoria do Município para enquadrar Candisse na Justiça.

Porque eu sei que ela sabe exatamente o que isso significa.

Eu sei que ela sabe como isso pesa.

Eu sei que ela já esteve do outro lado dessa mesma balança.

E ENTÃO, AS DUAS VERSÕES DELAS COLIDEM

O estopim desse confronto público não nasceu do nada. Tudo começa quando Candisse, mantendo seu estilo direto e pouco dado a meias palavras, publica críticas duras contra a gestão de Emília — críticas que, concorde-se ou não com o conteúdo, faziam parte do jogo democrático e da disputa de narrativas que sempre existiu no tabuleiro politico tupiniquim. A resposta, porém, não veio em forma de debate, nota oficial ou contraponto político. Veio em forma de intimidação jurídica. A prefeitura decidiu acionar sua Procuradoria — com toda sua estrutura, orçamento e peso institucional — para mover uma ação contra uma cidadã que, goste-se ou não dela, estava exercendo seu direito de opinião.

O QUE ESTÁ POR TRÁS DESSE EMBATE NÃO É O QUE PARECE

Não é só sobre vídeo no Instagram.

Não é só sobre calúnia e difamação.

Não é só sobre liberdade de expressão ou abuso de poder.

É sobre:

1. Ambição travada

Candisse se viu gigante rápido demais.

Emília chegou ao topo depois de anos de muro para escalar.

2. Narrativas em disputa

Uma precisa acusar para existir.

A outra precisa reagir para sobreviver.

3. O fantasma de Rogério

Não é segredo que parte do fogo vem da estratégia do senador em usar Candisse como instrumento político.

4. A memória que Emília tenta esquecer

E que eu — que estive lá — não esqueço:

ela já foi vítima do que agora pratica.

5. O risco de tudo virar fumaça

Se Candisse não provar o que diz, pode implodir.

Se Emília exagerar na mão, pode corroer a própria narrativa de mulher combativa e justa.

E EU, QUE CONHECI AS DUAS, DIGO O QUE NÃO CABE NAS MANCHETES

Esse embate é o tipo de conflito que o público nunca entende completamente, porque não conhece a pré-história dessas duas mulheres. 

A não ser a clack de cada uma. 

Mas eu conheço.

Eu vi.

Eu convivi.

Eu assisti ambas antes do holofote político.

E talvez por isso eu olhe para essa guerra e veja mais do que disputa eleitoral:

Vejo um espelho quebrado —

cada pedaço refletindo uma versão delas mesmas que talvez nem elas queiram enxergar.

E Aracaju, no meio disso tudo, só assiste.

Mas quem já viveu bastidores demais sabe:

a pior parte dessas guerras não é o barulho.

É o silêncio que vem depois.

O QUE REALMENTE IMPORTA NESTE EMBATE

A ação proposta pela Procuradoria do Município tenta enquadrar Candisse por supostos danos à honra, alegando que as críticas dela ultrapassam o limite do aceitável no debate público. O problema é que o texto jurídico, embora revestido de formalidade, revela algo maior: a tentativa de transformar divergência política em infração punível. Em vez de contestar argumentos, o município busca calar a voz que os formula. E isso fica evidente no tom do documento, que mais parece um recado do poder do que uma peça técnica. A Procuradoria, que deveria defender o interesse coletivo, se vê agora mobilizada para defender a sensibilidade de uma prefeita — o que, por si só, já distorce o papel institucional que lhe cabe.

A briga entre Emília e Candisse é só a superfície. A camada mais visível de um problema maior, mais profundo e mais perigoso: a utilização da máquina pública para calar quem incomoda.

Isso sempre foi prática comum no Brasil. E em Sergipe del Rey, então, é quase entidade folclórica.

Quando prefeitos, governadores, parlamentares ou seus aliados acham que o Estado é uma extensão de suas vaidades, o debate público morre. A crítica vira inimiga. O cidadão vira réu. E a democracia vira ornamento.

Hoje o alvo é Candisse.

Ontem fui eu.

Amanhã será outro.

É um ciclo vicioso que precisa ser exposto, enfrentado e interrompido.

Porque sempre que a caneta é usada para silenciar, não é só a voz do crítico que é ferida.

É a sociedade inteira que fica mais muda.

E, no silêncio, meu amigo, é onde o poder mais gosta de trabalhar.

O fato é que 2026 é logo ali. Se pensas que já viu de tudo é porque ainda o ano eleitoral nem começou. 


Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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