ELIANA CALMON DETONA O SISTEMA: “O JUDICIÁRIO FOI COOPTADO PELA POLÍTICA“
POR TIAGO HÉLCIAS

Há entrevistas que passam, e há entrevistas que ferem o silêncio de Brasília.
A concedida pela ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon ao programa Arena Oeste, da Revista Oeste, pertence à segunda categoria — aquela que reverbera como trovão em céu fechado.
Logo nas primeiras frases, Calmon rasga o verniz institucional e expõe algo que, até então, circulava apenas nos bastidores, nas conversas de porta entreaberta, nos corredores onde o país real não entra:
Que a “descondenação” de Lula foi um movimento político do STF para impedir Bolsonaro de transformar a Corte em um tribunal constitucional.
Que houve “combinado” para retirar Bolsonaro do jogo em 2026.
Que advogados e juristas vivem hoje sob “medo do Judiciário”, mais forte do que em períodos autoritários.
Que o 8 de janeiro virou instrumento para consolidar uma narrativa definitiva contra o ex-presidente.
É nesse clima carregado, quase teatral, que entra nossa edição especial da Entrevista de Domingo, reproduzindo — em formato organizado — as declarações mais contundentes dessa conversa que parou a política nacional.
Relembrando:
a entrevista completa foi concedida à Revista Oeste, no programa Arena Oeste.

ENTREVISTA
Ministra, na sua avaliação, por que o STF anulou as condenações de Lula?
ELIANA CALMON:
“O Supremo Tribunal Federal… onde não posso dar esta culpa ao ministro Fachin. Eu não posso. O ministro Fachin não fez isso sozinho.
Aquilo tudo é combinado.
Bolsonaro não pode mais ser presidente de forma alguma.
Quem é que a gente vai botar?
A esquerda não tinha mais ninguém. Todo mundo estava comprometido.
O que é que faz? Faz uma enquete.
O único que sobrou? Lula da Silva.
Mas ele está condenado. Como é que faz?
A gente já julgou uma porção de coisa dele. Como é que faz?
Desmoraliza a Lava Jato.”
A senhora afirma, portanto, que houve um movimento político, e não jurídico?
ELIANA CALMON:
“Sim. Houve um movimento institucional.
E esse movimento nasce do medo.
Medo de que Bolsonaro pudesse transformar o STF em uma corte constitucional, reduzindo o poder que os ministros têm hoje.”
A senhora usa com frequência a expressão “bolha do STF”. O que exatamente significa isso?
ELIANA CALMON:
“Não vejo a possibilidade de os ministros admitirem que erraram.
Eles podem até deitar a cabeça no travesseiro e pensar nisso, mas recuar diante da nação?
Não acredito.
O STF vive numa bolha, isolado, sem contraponto, sem freio.
Ali, 11 pessoas decidem o destino do país sem admitir revisões.”
A senhora mencionou que juristas estão com medo. Que tipo de medo é esse?
ELIANA CALMON:
“Nunca vi terem tanto medo do Judiciário como têm agora do STF.
Advogados, professores, juristas…
Todos com receio de represálias, de punições, de sanções.
Isso nunca aconteceu dessa forma.
Hoje, há medo de falar.
Há medo de interpretar.
Há medo de advogar.”
E sobre o 8 de janeiro? Como a senhora enxerga a condução dos processos?
ELIANA CALMON:
“O 8 de janeiro é, para mim, a finalização de uma narrativa.
Uma narrativa construída para tirar Bolsonaro das eleições de 2026.
Serve como instrumento de consolidação de poder.
Não estou defendendo vandalismo — jamais.
Mas estou analisando o uso político do episódio.”
MEU COMENTÁRIO
A entrevista de Eliana Calmon escancara um ponto incômodo:
no Brasil, a luta política deixou de ser travada entre partidos — e passou a ser travada entre poderes.
O tabuleiro não é mais o Congresso, as ruas ou as urnas.
O tabuleiro é o Judiciário.
E os jogadores — como sugere Calmon — não disputam apenas interpretações legais, mas a narrativa dominante que definirá o futuro do país.
O que a ex-ministra descreve não é um episódio isolado.
É um mecanismo.
Um sistema que se autopreserva, que teme a mudança, que reage quando pressionado.
E é justamente isso que faz sua fala doer mais do que qualquer manchete:
a ideia de que o medo, e não a Constituição, teria guiado decisões históricas.
Não é pouco.
Não é trivial.
E não pode ser varrido para debaixo do carpete como “opinião”.
Se o país chegou ao ponto de uma das vozes mais respeitadas do Judiciário dizer, diante das câmeras, que:
“houve combinado”,
“houve medo”,
“houve narrativa”,
“houve movimento institucional para retirar um candidato do jogo”…, então o debate deixou de ser jurídico.
Passou a ser civilizatório.
A democracia só sobrevive quando o árbitro é confiável.
Quando o juiz é juiz — e não jogador.
E essa entrevista, goste-se ou não, lança dúvidas que não podem ser ignoradas.
Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.
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