FÉ, FAMÍLIA E PROGRESSO: A ETERNA MARCA DE LUCIANO VIEIRA NASCIMENTO EM SERGIPE
POR TIAGO HÉLCIAS
Há histórias que não podem se perder no tempo. Histórias de homens que, com sua visão e coragem, ajudaram a moldar o lugar onde vivemos, deixando marcas que permanecem vivas mesmo quando eles já não estão entre nós.
Se hoje falo sobre Luciano Vieira Nascimento, é preciso antes pedir licença: Sou testemunha direta de sua vida, de sua presença e do seu exemplo. E ainda que isso possa parecer “quebra de protocolo”, acredito que algumas memórias precisam ser ditas não apenas com a frieza dos fatos, mas com a chama da gratidão e do afeto.
Muitos dos que o conheceram já se foram, outros guardam lembranças fragmentadas, e as novas gerações talvez pouco saibam sobre quem foi esse homem extraordinário. Por isso, este texto é também um registro: uma forma de contextualizar sua trajetória para aqueles que não o conheceram, para que sua história — que se confunde com a própria história do desenvolvimento de Sergipe — continue a inspirar.
Se estivesse entre nós, meu avô Luciano Vieira Nascimento completaria 94 anos neste 3 de outubro. Para muitos, ele foi um grande empresário, um líder político, um homem de fé e de visão. Para nós, da família, ele foi ainda mais: o companheiro amoroso de Evanina Botto de Barros Nascimento, com quem construiu uma vida sólida e um lar cheio de amor, e o pai dedicado de cinco filhos — Maria de Fátima, João Augusto, José Luciano, Rita de Cássia e Carlos Antônio, o caçula, que já partiu e hoje repousa na eternidade.
Para mim, como neto mais velho, ele foi o homem mais extraordinário que já conheci: meu herói, meu companheiro, meu porto seguro.
O fato, é que não há como separar a vida dele da história de Sergipe. Seu nome se confunde com o crescimento do Estado, com o fortalecimento da indústria, com o surgimento de novas tecnologias, com a criação de oportunidades e de líderes. Ele foi um visionário, desses homens que parecem viver sempre um passo à frente de seu tempo.
O empreendedor que acreditava em Sergipe
A trajetória empresarial começou ao lado de meu bisavô, João Soares Nascimento, na COCIL CÔCO S/A, que se tornaria a segunda maior indústria de beneficiamento de coco do Brasil. Dessa raiz forte nasceu um grupo empresarial que cresceu e se diversificou: a COCIL DADOS, primeira empresa de processamento de dados de Sergipe; o tradicional Vinagre Canário; o Sabão Itazul; e outras iniciativas industriais que marcaram época.
Meu avô também participou da fundação da TV Sergipe, na década de 1970, levando inovação à comunicação do Estado. Quem diria que anos depois, minha mãe deixou seu talento na tela do canal, o que aconteceu depois comigo ao praticamente iniciar minha carreira jornalística na mesma emisora.
Presidiu a Federação das Indústrias do Estado de Sergipe (FIES), dando novo impulso ao SESI e ao SENAI, ampliando sua presença e importância em todo o Estado.
Foi presidente da Junta Comercial de Sergipe por oito anos, ao longo do governo Albano Franco, modernizando e informatizando a instituição e organizando a grande celebração do seu centenário.
Na área de tecnologia, além da COCIL DADOS, liderou a PRODASE (hoje EMGETIS), companhia de processamento de dados do Estado, sempre com o olhar voltado para o futuro.
O político que formava líderes
Na política, deixou sua marca como fundador do Partido Liberal (PL) em Sergipe, a partir de sua amizade com Álvaro do Valle, presidente nacional da sigla. Mas mais do que erguer um partido, seu propósito era formar líderes. Ele acreditava que Sergipe precisava de homens e mulheres preparados para governar, administrar e transformar. Muitos grandes nomes da política sergipana surgiram sob sua inspiração.
Não era dele a necessidade de holofotes: meu avô Luciano foi, por várias décadas, um homem forte dos bastidores da política sergipana. Sua participação como suplente do senador Lourival Batista, fortaleceu seu nome como liderança e interlocutor entre empresários, sindicatos e governos colocavam-no num ponto de equilíbrio — onde as decisões eram moldadas, acordos costurados e projetos impulsionados. Esse perfil de bastidor explicita o tipo de influência que nem sempre aparecia nas manchetes, mas que, com o tempo, desenhou os destinos do estado de Sergipe.
Fé, associações e paixão pela comunicação
Homem de fé profunda, transmitia a certeza de que Cristo era o caminho, a verdade e a vida. Foi ministro da eucaristia e tinha atuação efetiva na igreja católica. Essa religiosidade guiava suas escolhas e dava serenidade mesmo diante das lutas.
Participou ativamente do Lions Club, onde exercia seu espírito de fraternidade e serviço, e foi homenageado com a maior honraria parlamentar do Estado de Sergipe, concedida in memoriam pelo então deputado Armando Batalha.
Era apaixonado pela comunicação e também pioneiro no rádio amador, operando com orgulho sob o prefixo PY6-ZAS. A tecnologia e a inovação sempre o atraíam, mas sem nunca perder o pé no humano, no contato, no olho no olho.
O homem da família
Mas se o Estado conheceu um líder, nós, da família, conhecemos o esposo amoroso de Evanina, o pai presente, o avô carinhoso, o homem de caráter, ternura e firmeza em igual medida. Sua vida pública e empresarial era imensa, mas nada se comparava à forma como ele nos abraçava em casa, como fazia questão de estar perto, de ensinar, de aconselhar.
A palavra dos filhos
Mas não sou só eu que guardo essa memória. Meus tios e minha mãe carregam em si pedaços dessa história que se multiplicam em lembranças, exemplos e ensinamentos.
Maria de Fátima Botto de Barros Nascimento minha mãe, escreve:
“Luciano Vieira Nascimento, meu pai amoroso, meu lindo, como eu o tratava, foi sempre presente na minha vida. Sou sua primogênita!
Ele é um belo exemplo de esposo, com Evanina, minha madrecita querida, formava um “muy hermoso” casal, pois era um homem de caráter singular, completando-a com muito carinho e incentivo às suas habilidades e talentos.
De sua fé em Deus herdei seu legado indestrutível, o amor perfeito ao Cristo ressurreto.
Ensinou a muitas pessoas, os quais desejosos de crescimento espiritual, ou emocional, ou intelectual, se acercavam da sua companhia, com o objetivo de ouvir e aprender, a exemplo do meu marido Gilberto Nascimento Gois, que o amava e admirava, testificando: “Luciano, meu sogro, era um livro aberto, rico em histórias e experiências”.
Sua visão? Era de uma águia, ele sabia alçar seu vôo mais alto, quando sentia que vinha uma dificuldade, e se recolhia na luz que brilhava do alto da morada do Senhor.
Meu lindo, foi meu maior conselheiro e verdadeiro amigo, posso dizer que o meu mais legal “influencer”.
Contudo, desejo aqui enfatizar, o perfil mais particular do meu lindo:
Gostava de um bom futebol, e foi um grande torcedor do Palmeiras, influenciando toda a família até os dias de hoje.
E muito mais… meu amado pai, era tudo de bom em nossas vidas, forte de personalidade, todavia de uma delicadeza e ternura maravilhosa, o que para os meus filhos (03), seus netos, e em seguida para os meus netos (07) naturalmente, seus bisnetos, deixou uma marca inefável na alma de todos.
Com muito amor, admiração e gratidão, eternamente, para a glória de Deus, pela passagem dos seus 94 anos se vivo estivesse entre nós.
José Luciano Botto de Barros Nascimento, escreve:
“Falar do Sr. Luciano Vieira Nascimento, meu pai, torna-se fácil, porque Ele foi e é o meu espelho.
Ele, como pai, esteve presente em tudo na minha vida.
Cristão, transmitiu-me o Amor a Deus e ensinou-me que Jesus é verdadeiramente o Caminho, a Verdade e a Vida e que para chegar ao Pai é tão somente por meio dele.
Aprendi com ele sobre ser honesto, sobretudo, honesto de propósitos.
Aprendi as coisas práticas da vida, acompanhando-o em suas atividades profissionais, o que me fez tomar gosto pela administração de negócios, não importando o tamanho, mas acreditando sempre no crescimento e desenvolvimento daquilo que nos propomos, pois Deus sempre estará conosco.
Ele, sempre no período das minhas férias escolares, levava-me em suas viagens de trabalho, quer fossem ligadas às empresas, ou até mesmo às vinculadas às atividades de classe, pois ele foi um verdadeiro “Construtor do Progresso”.
Ele, naquela época, só viajava de carro e, então, eu lembro todo seu repertório de músicas, que desafinado, mas vibrando muito amor, ele ia estrada afora cantarolando, por vezes para driblar o cansaço.
Aprendi com ele a gostar de futebol e descobri assim que o meu coração era verde e branco, do Palmeiras desde Leão, Eurico, Luis Pereira, Alfredo e Zeca, Dudu e Ademir, Edu, Leivinha, César e Ney. Assim até hoje.
Frase que ele sempre repetia:
“Se não aprender a gostar de trabalhar desde cedo, não será depois de adulto que vai ser trabalhador!”
Saudade? Sim, muitas!
Tristeza? Nenhuma!
Só gratidão e lembranças maravilhosas!”
Rita de Cássia Botto de Barros Nascimento, escreve:
“Um pai dedicado à família, ao trabalho, que ensinou não só a dirigir veículo, mas a lidar com força e fé as lutas que a vida nos oferece.
Seus ensinamentos ultrapassaram o tempo: mostraram como enfrentar obstáculos, como acreditar em si mesmo, como jamais abrir mão dos valores. Foi com ele que aprendi que a vida se constrói todos os dias com coragem e com amor.”
João Augusto Botto de Barros Nascimento, escreve:
“Luciano Vieira Nascimento. Meu pai. Meu amigo. Meu companheiro.
Éramos cúmplices no trabalho, trabalhamos várias décadas juntos.
Aprendi muito com seu destemor, com a sua coragem, principalmente com a sua resiliência e fé.
Com ele aprendi a seguir o caminho empresarial em momentos de muitas dificuldades.
Acima de tudo, ele me ensinou serenidade: enfrentava os problemas com calma e saía deles com humildade.
Hoje, sinto saudades — ele estaria comemorando 94 anos.
Grandes saudades dos seus ensinamentos, da sua solidariedade, da sua presença constante na vida de todos os filhos e da família.
Um amigo para todos os momentos, amigo dos amigos, empreendedor, um visionário, um homem que faz parte da história de Sergipe.
E a história de Sergipe tem nele um dos seus protagonistas.”
Carlos Antônio Botto de Barros Nascimento
O caçula da família, que partiu cedo demais, também leva consigo um pedaço de toda essa história. Embora não esteja aqui para registrar suas palavras, sua vida é parte inseparável do legado do pai. Fica guardado neste espaço o testemunho silencioso de amor e saudade.
Meu avô, meu herói
E eu, como neto mais velho, guardo comigo a sensação de que fui privilegiado por caminhar tão perto de um homem como ele. Meu avô não foi apenas um exemplo: ele foi meu porto seguro, minha bússola, meu espelho. Foi o homem mais incrível e extraordinário que já conheci.
Se hoje sou quem sou, profissional e pessoalmente, devo a ele. As longas conversas, os gestos, o exemplo silencioso e firme — tudo dele permanece em mim. Sinto sua presença todos os dias, como se ainda estivesse ao meu lado, guiando cada passo.
Na saudade encontro também consolo: a certeza de que um dia estaremos juntos outra vez. Até lá, sigo carregando com orgulho o legado do meu avô, Luciano Vieira Nascimento — exemplo eterno de amor, fé, coragem e visão.
Hoje, não escrevo como jornalista. Não é o profissional que já contou tantas histórias em quase três décadas de carreira.
E digo: Luciano Vieira Nascimento não foi apenas parte da história de Sergipe. Ele é parte da minha história.
E é desse lugar, de gratidão e saudade, que deixo registrada esta homenagem.
Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.
Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.
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