VERGONHA ALHEIA: A FARSA DA IMPARCIALIDADE NA IMPRENSA

POR TIAGO HÉLCIAS

Quase 30 anos de jornalismo me ensinaram algo que nem sempre aparece nos manuais de ética ou nos discursos solenes sobre liberdade de imprensa: as redações não são neutras.

Estive em diversas emissoras de TV, Rádios e Jornais, em diferentes estados do Brasil, e vi de perto como as narrativas são moldadas. A escolha das pautas, a forma como se redige uma manchete, o enquadramento dado a um entrevistado — tudo carrega uma lente. E, na maioria das vezes, essa lente aponta para o campo progressista.

Não estou aqui para demonizar a esquerda nem para absolver a direita. O que coloco em discussão é o vício de origem da grande imprensa: a incapacidade de assumir, com clareza, a sua própria ideologia. Em nome da “imparcialidade”, perpetua-se uma narrativa que, de fato, não é neutra.

As redações como espaços de militância velada

Em muitas ocasiões, testemunhei colegas baterem no peito e dizerem: “Sou de esquerda, é disso que o jornalismo precisa”. Não era uma confissão tímida, mas uma bandeira. A velha - no qual me incluo - e a nova geração, muitas vezes formada em universidades onde a crítica cultural frankfurtiana virou quase catecismo, entende a profissão menos como serviço público e mais como militância. O problema não é a existência da militância — ela é legítima. O problema é quando se confunde militância com jornalismo.

A imprensa e o mito da neutralidade

Walter Lippmann (Foto) já nos alertava, há um século, sobre os pseudoambientes que a mídia constrói. Não entregamos ao público a realidade tal como é, mas uma versão processada, filtrada, simplificada. Isso não seria grave se houvesse diversidade real de vozes e contrapontos. Mas quando uma hegemonia ideológica se instala, os pseudoambientes se transformam em bolhas. O leitor acredita estar informado, mas na prática recebe sempre a mesma narrativa, com pequenas variações cosméticas.

A liberdade sob ameaça: do controle econômico ao cancelamento

Houve um tempo em que a censura se manifestava de modo aberto e facilmente identificável; agora, ela opera em tons mais sutis, quase invisíveis, mas não menos eficazes: pela cultura do cancelamento e pela pressão dos grupos organizados. O jornalista que ousa desafinar da cartilha progressista corre o risco de perder espaço, emprego ou reputação. O medo do linchamento digital substituiu o carimbo da censura oficial.

Nesse sentido, filósofos como Luís Felipe Pondé (Foto) acertam ao identificar que vivemos uma nova forma de patrulha ideológica, que paralisa o debate público. E, paradoxalmente, parte da imprensa — que deveria ser a guardiã da liberdade de expressão — aderiu a essa patrulha, reforçando silêncios seletivos e cancelando dissidentes.


A polarização como combustível da narrativa

Estamos em um momento de polarização extrema. A imprensa, ao invés de exercer o papel de mediação, muitas vezes se coloca como parte interessada, amplificando tensões e reforçando estigmas. A “guerra cultural” não se limita ao ambiente político: ela invade redações, universidades, redes sociais. E o jornalismo, que deveria iluminar, acaba contribuindo para obscurecer, oferecendo respostas fáceis para problemas complexos.

Uma provocação necessária

Outro dia me perguntaram:

“A mídia é comunista?” - Fui forçado a uma reflexão!

Ao tempo, a resposta pode até ser simplista, mas escancara um ponto central: há uma hegemonia ideológica, sim, e ela não pode ser ignorada. Não é apenas sobre esquerda ou direita, mas sobre liberdade. Liberdade de informar sem militância travestida de jornalismo. Liberdade de ouvir o contraditório sem medo de ser linchado. Liberdade de expressão, que tenho defendido em diferentes momentos da minha carreira, e que hoje se vê ameaçada não pela censura oficial, mas pela autocensura e pelo pensamento único.

No fim, a reflexão é mais profunda e não cabe apenas às empresas de comunicação, mas também a quem faz a mídia no dia a dia: o jornalista, o produtor de conteúdo, o comunicador que assume o papel de mediador da realidade. Mas a responsabilidade não para aí. Ela se estende também à sociedade, cada vez mais imersa na era digital, onde qualquer um pode informar, manipular ou ser manipulado.

Nunca foi tão urgente separar o joio do trigo. Questionar, checar, desconfiar. Não basta consumir informação — é preciso aprender a digeri-la com senso crítico. O futuro da liberdade de expressão não depende apenas de grandes veículos ou de governos, mas da maturidade de todos nós como cidadãos.

Se a mídia molda percepções, cabe ao público não se deixar moldar sem consciência. E cabe ao jornalista resgatar aquilo que deveria ser a essência da profissão: oferecer luz, e não sombra.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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