TRUMP VIRA O JOGO NA ONU E DEIXA LULA SEM DESCULPAS
POR TIAGO HÉLCIAS
A 80ª Assembleia Geral da ONU começou com aquele velho déjà-vu tropical. Luiz Inácio Lula da Silva subiu ao púlpito, foi aplaudido — claro, sempre é — e entregou mais um discurso recheado de bravatas e demagogia. Com a velha retórica de que o Brasil é protagonista global, guardião da democracia, líder ambiental e modelo de solidariedade internacional, Lula repetiu a fórmula que já virou marca registrada: bater no peito, vender utopia e posar de porta-voz dos “invisíveis” do planeta.“
“O Brasil voltou a ser protagonista na cena internacional. Não aceitaremos que o multilateralismo seja substituído pelo unilateralismo das potências”,
bradou Lula, arrancando aplausos da plateia. E claro não perdeu a chance de falar de Bolsonaro.
“Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas.”
Confira, se tiver estômago, o discurso completo de Lula
Nos bastidores, porém, diplomatas comentavam que, por trás das palavras inflamadas, pouco havia de concreto. Muito barulho, pouca ação. Só a de Janja, flagrada fazendo self, enquanto sentada ao lado dos chefes de estado. O discurso foi para a plateia — e para a vaidade de Lula. Só que, na sequência, o palco foi tomado por Donald Trump. E aí, o enredo mudou completamente.
Trump muda o jogo: elogio com veneno e armadilha diplomática
Trump, mestre em virar holofotes para si, fez questão de citar Lula. E não economizou no sarcasmo:
“Tive uma química excelente com Lula. Ele é um cara muito agradável. Nós vamos nos reunir na próxima semana para discutir as tarifas que têm sido impostas ao Brasil.”
Confira o discurso de Trump na íntegra
Um gesto que soou amistoso, mas que, na prática, foi uma jogada de mestre: arrancou de Lula a narrativa de que os EUA não querem dialogar com o Brasil.
Se antes Lula podia culpar o “imperialismo” pela falta de avanços, agora Trump deixou a porta aberta em público. A mensagem foi clara: “Eu gosto do Lula, ele gosta de mim. Se não tiver conversa, a culpa não é minha.”
E para completar, o tal encontro que Trump anunciou pode nem acontecer presencialmente. Fontes diplomáticas admitem que Lula e Trump não devem se reunir cara a cara; no máximo, uma conversa por telefone ou videoconferência. Ou seja: o gesto ruidoso foi mais midiático que diplomático. Trump se coloca como aberto, enquanto Lula hesita — e assim perde a narrativa.
O abraço de urso: elogio que sufoca
Não se enganem: o discurso de Trump não foi só afeto. Entre sorrisos e acenos, ele cutucou duro o Brasil ao citar censura, repressão, corrupção judicial e perseguição a opositores. Foi um abraço de urso. Parece afeto, mas sufoca.
Assim, Trump consegue a façanha de elogiar Lula para o mundo, ao mesmo tempo em que o deixa encurralado diante de acusações sérias. A “química excelente” vira quase uma ironia cruel.
Lula em xeque, Trump no controle
No fim das contas, a Assembleia deixou claro quem domina o jogo. Lula, mais uma vez, usou o palco para vender bravatas e fantasias. Trump, com cinismo e pragmatismo, desmontou sua narrativa em segundos.
Agora, qualquer movimento de Lula em relação aos EUA terá que ser explicado sem a desculpa da “falta de abertura americana”. E, se a tal reunião se limitar a um telefonema protocolar, Trump ainda assim sairá vencedor: ficará com a imagem de estadista aberto ao diálogo, enquanto Lula aparecerá como o líder que fala muito e age pouco.
No xadrez da ONU, Trump deu o checkmate com um sorriso. E Lula, aplaudido no discurso, saiu encurralado no silêncio dos bastidores.
Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.
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