RODRIGO VALADARES: O “GAME OF THRONES” DO PL EM SERGIPE

POR TIAGO HÉLCIAS

Se a política sergipana já é conhecida pelos enredos mirabolantes, a mais recente novela tem como protagonista o deputado federal Rodrigo Valadares. Ele conseguiu um feito que muita gente achava improvável: tomar o comando do Partido Liberal (PL) em Sergipe das mãos do empresário Edvan Amorim. Mas não se engane — isso não é apenas uma troca de cadeira no diretório. É uma jogada de xadrez recheada de acusações de traição, ressentimentos explícitos e, claro, promessas de confusão para o futuro.

A dança das siglas: flexibilidade ou oportunismo?

Rodrigo Valadares não tem medo de trocar de roupa no meio da festa. Seu currículo político mais parece um carrossel partidário: já passou pelo PR (2011–2016), depois estacionou no PTB (2016–2022), onde se elegeu deputado estadual, e, mais tarde, fez escala no União Brasil, legenda pela qual chegou à Câmara Federal em 2022. Agora, assume o comando do PL sergipano.

Essa mobilidade toda pode ser chamada de “flexibilidade” por uns, mas por outros soa como oportunismo descarado. Afinal, qual a verdadeira bandeira que Valadares defende? Ou a única bandeira é a do “me dê espaço que eu subo”?

O xeque-mate: Valadares 1 x 0 Edvan

A decisão partiu de cima: a direção nacional do PL resolveu entregar o comando a Rodrigo Valadares. Resultado? Edvan Amorim, até então “dono” do apito no partido, foi jogado para a arquibancada. A reação foi imediata e digna de manchete: chamou Valadares de “traidor” e soltou a pérola de que não se senta com ele “nem para beber água”.

Foi o suficiente para incendiar os bastidores e transformar uma disputa partidária em espetáculo público. Afinal, em política, ninguém briga por garrafa d’água — briga-se por poder, por espaço e por quem será o dono da bola no próximo jogo.

A política como Game of Thrones

A tomada do PL em Sergipe poderia facilmente ser um episódio extra de Game of Thrones. Valadares surge como um personagem que, de tanto trocar de casa, lembra os lordes que juravam lealdade a um rei pela manhã e o apunhalavam à noite. Já Edvan Amorim, com sua indignação pública, encarna o nobre que se recusa a aceitar o novo rei e promete vingança eterna.

No melhor estilo político, alianças frágeis podem se desfazer ao primeiro sinal de traição. A tal “debandada” de aliados seria como a deserção de exércitos que juravam lealdade, mas abandonam o campo de batalha quando percebem que o trono já não pertence ao seu senhor. E, assim como na série, o jogo não termina com a conquista do trono: começa ali a verdadeira guerra para mantê-lo.

A conta pode chegar: risco de debandada

Se Valadares sorri pela vitória, que não comemore tão cedo. O custo pode ser alto. Fontes de bastidores já falam em debandada de aliados importantes, que não aceitam sua liderança. Entre os nomes citados estão Emília Corrêa, Valmir de Francisquinho, Ícaro de Valmir, Tiago de Joaldo e, claro, o próprio Amorim.

Se esse movimento de saída se concretizar, o PL pode virar um partido fantasma em Sergipe: sem força, sem capilaridade e sem poder de barganha nas próximas eleições. Pior: Valadares pode acabar comandando apenas o nome e a sigla, sem soldados para a guerra política.

O reflexo nacional: quando Sergipe incomoda Brasília

O que muita gente esquece é que o PL não é apenas uma sigla qualquer. É o partido de Jair Bolsonaro e, sobretudo, de Valdemar Costa Neto, o verdadeiro maestro da orquestra. A movimentação em Sergipe pode parecer pequena, mas é parte de um tabuleiro maior: Valdemar está reorganizando diretórios pelo Brasil para garantir fidelidade, lealdade e… votos em 2026.

Rodrigo Valadares, nesse contexto, entra como peça útil a Brasília. É jovem, tem mandato federal e, diferente de Edvan, fala a língua do bolsonarismo mais orgânico. A troca, portanto, não é um capricho regional, mas uma estratégia nacional: alinhar Sergipe ao discurso central do PL.

Só que há um detalhe: se o partido implodir no estado por causa da fúria dos preteridos, Brasília pode se arrepender de ter apostado em Valadares. No fim das contas, de nada adianta entregar o diretório a um aliado se, na prática, ele não tem exército para marchar.

E o que vem agora?

A pergunta que não quer calar: Rodrigo Valadares será lembrado como o estrategista que modernizou o PL sergipano ou como o síndico que herdou um prédio vazio?

Por enquanto, o que temos é mais uma prova de que a política sergipana não perde para nenhum folhetim — nem para Game of Thrones. Porque, no fim das contas, o trono é apenas um detalhe: o que importa mesmo é quem sobrevive aos dragões, às facadas e, claro, às alianças de conveniência.

E se você ainda não assistiu à série, aqui vai um conselho: corra para ver. Game of Thrones é praticamente um manual sobre como funcionam os bastidores do poder — seja em reinos medievais ou nos diretórios partidários do Brasil. Dragões podem não existir, mas traições, conspirações e guerras por trono… ah, isso nunca saiu de moda.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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