MPF ENTRA EM AÇÃO: PT TRANSFORMA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE EM PALANQUE
POR TIAGO HÉLCIAS
O Ministério Público Federal decidiu colocar a Universidade Federal de Sergipe (UFS) sob os holofotes — e de forma oficial, registrada no Diário Eletrônico do MPF (DMPF) em 2 de setembro de 2025. Você pode conferir o PDF oficial da recomendação aqui: MPF – DMPF 02/09/2025.
O motivo? Um evento que, no papel, parecia uma atividade de extensão universitária, mas que, na prática, foi um verdadeiro comício da Juventude Petista dentro do campus.
E não foi pouca coisa. O encontro tinha direito a certificado de oito horas, no palco dirigentes do PT, no público gente vestida com camisetas do partido, e nas mesas fichas de filiação disponíveis para quem quisesse sair da sala de aula direto para o diretório municipal. Um evento político, feito na cara dura, descaradamente travestido de extensão universitária, com o carimbo oficial da UFS.
O MPF foi direto: a universidade deve impedir que atividades de extensão sejam utilizadas como instrumento de militância partidária. Mais: a recomendação exige publicação imediata nos canais oficiais e dá 30 dias para manifestação da universidade. Recusar ou se omitir não é apenas descuido: pode virar prova em ação judicial.
UNIVERSIDADE OU COMITÊ ELEITORAL?
O episódio da UFS não é isolado. Ele escancara um fenômeno antigo: o aparelhamento político-ideológico das universidades federais. O que deveria ser espaço de debate plural se transforma, com frequência, em linha de montagem ideológica. O estudante entra para aprender engenharia, medicina ou direito, mas sai sabendo de cor a cartilha partidária — e não raramente com carteirinha assinada.
E tudo isso bancado com dinheiro público. Dinheiro de quem não escolheu partido, mas financia, involuntariamente, um projeto político travestido de atividade acadêmica.
OUTROS CAPÍTULOS, MESMO ENREDO
O MPF já precisou intervir em outros momentos na UFS. Em fevereiro de 2025, a universidade foi advertida por negar acesso ao espelho de prova de concurso de Zootecnia. Em maio, após ação civil pública, lançou edital reservando 30% das vagas para negros. De concurso engessado a evento partidário, a dificuldade de cumprir regras básicas de transparência e impessoalidade persiste.
E SE FOSSE UM EVENTO DE DIREITA?
Imagine se, em vez da Juventude Petista, o evento fosse da juventude de um partido de direita. O barulho seria estrondoso: manchetes em caixa alta, editoriais inflamados, programas especiais cobrindo “a ameaça à democracia”. Mas como se trata da esquerda, a cobertura da grande imprensa foi tímida, quase burocrática. Silêncio cúmplice, seletivo, que só legitima o aparelhamento.
A IMPRENSA MILITANTE
A imprensa brasileira, ou boa parte dela, que já foi respeitada, hoje ostenta crachá de militante e ainda tem “profissional” que bate no peito pra defender bandeiras e ideologias. O fato é que escândalos que envolvem partidos aliados viram nota de rodapé; se fosse do outro lado, seria escândalo nacional. Essa seletividade não só desinforma, como também reforça a sensação de que universidade é território de poucos — e desses poucos, apenas os do lado “certo”.
Mesmo assim, por incrível que pareça, o caso ganhou repercussão nacional pela revista VEJA.
EXTENSÃO OU EXTORSÃO DA PLURALIDADE?
A extensão universitária, na teoria, é ponte entre o saber acadêmico e a sociedade. Na prática, em casos como esse, vira trampolim para proselitismo barato. O estudante, que deveria sair com espírito crítico, sai com um kit militância. A universidade, que deveria ser farol de conhecimento, vira palanque disfarçado.
O PONTO FINAL (OU INTERROGATIVO)
O MPF fez o que a universidade deveria fazer: zelar pela neutralidade, seriedade e respeito ao dinheiro público. Mas a pergunta permanece: até quando aceitaremos que universidades públicas, financiadas por todos, sirvam a interesses de alguns?
Porque, no fim, a questão é simples: queremos universidades que formem cidadãos críticos ou militantes de carteirinha?
Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.
Comentários