BOLSONARO, O RÉU PERFEITO: NUNCA FOI SOBRE JUSTIÇA

POR TIAGO HÉLCIAS

Não se engane: o julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal não começou agora. Ele começou no dia seguinte ao 8 de janeiro, quando a narrativa oficial decidiu que havia um culpado — e que esse culpado tinha nome, sobrenome e uma base política para ser destruída. O que vemos agora é só a encenação final de uma peça escrita há muito tempo.

Aqui em Portugal, a imprensa acompanha tudo com olhos brilhando, como quem assiste a uma novela global cheia de intrigas tropicais. Os portais portugueses estão mergulhados no caso, classificando o processo como “histórico”, “inédito” e até “necessário”. Só esqueceram de avisar que, quando o tribunal se torna palco, a justiça costuma sair pela porta dos fundos.

A imprensa portuguesa e o espetáculo do “histórico”

É curioso ver como a cobertura por aqui se molda. Falam em um “julgamento histórico” e lista os crimes como quem descreve um roteiro de filme: golpe de Estado, atentado contra o Estado Democrático, tentativa de abolição da ordem constitucional. Tudo grandioso, épico — mas pouco questionador.

Outros setores da imprensa preferem o suspense dramático, lembrando a ansiedade de um país inteiro, as medidas de segurança e até a intromissão de Donald Trump, que teria tentado defender seu aliado. O detalhe é que ninguém ousa perguntar se estamos diante de um processo justo ou de uma perseguição política travestida de legalidade.

O jornalismo europeu repete o script que já vimos tantas vezes no Brasil: a narrativa oficial é aceita sem fricções, porque é mais fácil vender um vilão pronto do que enfrentar a complexidade de um processo contaminado por interesses políticos.

Portugal e sua ultradireita: a defesa que incomoda

No meio desse coro, há quem não engula a história oficial. André Ventura, líder do Chega, tem sido uma das poucas vozes a questionar o que está acontecendo. Chamam-no de populista, de extremista, de inflamado — mas ignoram que o ponto central de sua crítica é difícil de rebater: como é possível um julgamento ser isento quando o veredito já está pronto?

Ventura disse, meses atrás, quando Bolsonaro foi humilhado com uma tornozeleira eletrônica:

“O bolsonaro foi levado para uma esquadra de polícia para pôr pulseira eletrônica e o verdadeiro ladrão está sentado na cadeira do presidente.”

Frase dura? Com certeza, mas que ecoa o pensamento de milhões de brasileiros que olham para o processo e veem mais política do que justiça. A narrativa, claro, é facilmente descartada como “discurso de ultradireita”, como se a etiqueta bastasse para invalidar qualquer debate.

Quando a justiça veste a camisa

O problema é que, quando um tribunal vira palco de espetáculo político, ninguém ganha. E é isso que Portugal, de longe, parece não perceber — ou finge não perceber. O julgamento de Bolsonaro não é apenas sobre os atos do dia 8 de janeiro. É sobre poder, controle e narrativa.

O STF não está apenas julgando um homem; está julgando um movimento, uma base política, uma parte expressiva da sociedade brasileira que ousou discordar da versão oficial dos fatos. O problema? Uma democracia que precisa de um inimigo para sobreviver é uma democracia frágil — e, no fim, perigosa.

Entre o mito e a farsa

Enquanto a imprensa lusa repete o mantra da “defesa da democracia” e os políticos portugueses da direita mais radical ensaiam uma defesa solitária, o Brasil se aproxima de um desfecho previsível: a condenação de Jair Bolsonaro, ou alguém tem alguma dúvida que isso irá acontecer?

Não porque o processo provou sua culpa de forma irrefutável, mas porque a engrenagem do sistema já decidiu que assim será. E quando a sentença precede o julgamento, não estamos diante de justiça — estamos diante de um tribunal de exceção travestido de legalidade.

A história dirá, mais cedo ou mais tarde, que o Brasil escolheu transformar um ex-presidente em réu perfeito para que o espetáculo fosse completo.

Daqui, a distância e a lucidez

Estar fora do Brasil me dá uma perspectiva diferente. Vejo o que muitos aí não querem ver — ou não podem, ou não têm coragem de admitir. Vejo um tribunal que joga para a plateia, um país dividido entre quem quer ver o “mito” atrás das grades e quem já não acredita em nada.

E confesso: é difícil assistir a tudo isso sem sentir que estamos diante de uma grande farsa, montada com precisão cirúrgica. Uma farsa que vende democracia, mas entrega vingança.

De Portugal, é mais fácil perceber como a história já foi escrita. O julgamento é só um detalhe.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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