APARTAMENTOS POR CABEÇAS: A OFERTA MACABRA CONTRA UMA JORNALISTA BRASILEIRA EM PORTUGAL

Mais uma vez, de novo, a cena de selvageria digital se repete contra brasileiros. Claro: não se trata aqui de generalizar. Portugal continua a ser um país que se vende como acolhedor — e de fato é, abrindo portas e braços para imigrantes de várias partes do mundo. Tem, sim, seus problemas relacionados à migração, como tantos outros países europeus também têm. Mas é preciso dizer com todas as letras: mau-caratismo, covardia e comportamento criminoso não têm nacionalidade, não têm bandeira, não dependem da cor do passaporte.

O caso mais recente é de arrepiar: Um tal de Bruno Silva, um “cidadão” português, ofereceu nada menos que um apartamento no centro de Lisboa — avaliado em 300 mil euros — e mais 100 mil euros em dinheiro vivo para quem se dispusesse a massacrar brasileiros e entregar a cabeça da jornalista brasileira Stefani Costa. Não, você não leu errado. E não, não se trata de piada de mau gosto. É a banalização do ódio transformada em anúncio público.


E antes que alguém tente relativizar, este mesmo sujeito já havia enviado fotos de armas à jornalista no ano passado, insinuando que seriam usadas contra ela. Ou seja: não foi um rompante. Foi uma escalada premeditada, explícita e repetida. Barbaridades recorrentes que só confirmam a cabeça fria e doentia desse crápula.

Em seu perfil do X, onde Bruno Silva fez a tal “oferta macabra”, a timeline dele é um verdadeiro esgoto a céu aberto: repleta de discursos de ódio, mensagens de favorecimento ao nazismo, comparações esdrúxulas entre brasileiros e macacos e declarações racistas contra pessoas pretas. Não se trata de um deslize, mas de um padrão de comportamento que normaliza a violência e a intolerância. Aqui abrimos espaço para expor alguns desses prints — provas explícitas do nível de barbárie que circula livremente nas redes sociais.

É de embrulhar o estômago:


E a reação das autoridades? Morosidade. A reação das plataformas digitais? Inexistente.

Não é caso isolado. É padrão.

Este episódio se soma ao de João Paulo Silva Oliveira que ofereceu 500 euros pela cabeça de brasileiros decapitados. Depois da pressão das redes sociais, a resposta institucional veio rápida, mas os desdobramentos soaram brandos: ele chegou a ser detido, mas logo foi solto, ficando apenas com medidas cautelares como apresentações semanais à polícia, avaliação psicológica e proibição de usar redes sociais.

Perdeu o emprego e virou alvo de queixa-crime no Ministério Público, mas o fato concreto é que está em liberdade — e isso reforça a sensação de impunidade diante de um discurso de ódio tão explícito, que incitava violência contra uma comunidade inteira.

Esse outro caso ganhou repercussão aqui também no Blog:

LEIA AQUI!

Percebe o padrão? Não estamos diante de “idiotas na internet”. Estamos diante de criminosos que usam o palco digital para transformar o ódio em moeda de troca, num show que mistura xenofobia, violência e impunidade.

Enquanto isso, a comunidade brasileira em Portugal segue exposta como alvo preferencial. Pior: a ameaça de morte contra uma jornalista estrangeira, em pleno território europeu, parece não causar o mínimo de indignação que deveria. Se fosse em outro país, talvez já tivéssemos sanções severas e manchetes internacionais. Aqui, vira nota de rodapé — quando não é simplesmente ignorado.

E a lei, serve pra quê?

Portugal até tem avanços legais: desde 2013, o Código Penal reconhece agravantes de ódio em crimes violentos. Desde 2018, há enquadramento específico para discurso de ódio e incitamento à violência. Bonito no papel. Na prática, no entanto, o que vemos é uma legislação que parece tolerante com a intolerância. Processos arrastados, dificuldades de investigação, plataformas digitais que jogam contra e, no fim das contas, uma sensação de impunidade que só fortalece quem espalha ódio.

A Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP) já soou o alarme: o país se transformou num epicentro europeu de fake news sobre imigração. Some-se a isso a escalada de ameaças e temos um terreno fértil para criminosos que se sentem livres para falar e propor qualquer atrocidade sem temer consequências.

…e a grande mídia?

Posso até estar errado, mas enquanto a imprensa independente noticia, debate e denuncia o ódio contra brasileiros em Portugal, a grande mídia permanece calada. Nenhuma manchete, nenhuma reportagem de destaque, nenhum debate em horário nobre. Casos como o de Bruno Silva e João Paulo Silva Oliveira, que oferecem dinheiro e até imóveis por cabeças de brasileiros, parecem simplesmente não existir para os principais jornais e canais de televisão.

Esse silêncio não é neutro: é cumplicidade ou covardia. Ao ignorar ameaças explícitas de massacre, a grande mídia contribui para normalizar a barbárie. Porque na lógica do noticiário, aquilo que não se publica não se discute. E o que não se discute, não existe.

A pergunta que fica

Quantas cabeças precisarão ser postas “à venda” até que autoridades, plataformas e sociedade portuguesa tratem o problema com a seriedade que ele exige? A liberdade de expressão nunca foi e nunca será salvo-conduto para incitar massacre. O silêncio e a lentidão, neste caso, não são neutros: são cumplicidade.

E para nós, brasileiros que vivemos aqui, fica a lembrança incômoda: em vez de sermos vistos como parceiros que ajudam a construir Portugal, ainda temos de conviver com a ideia de que alguém pode estar, neste exato momento, calculando quanto vale a nossa cabeça em pleno século XXI.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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