ANDRÉ MOURA ABRE O JOGO SOBRE FAMÍLIA, POLARIZAÇÃO E ELEIÇÕES 2026

POR TIAGO HÉLCIAS



O quadro “Entrevistas de Domingo com Tiago Hélcias” chega à sua terceira edição trazendo um nome que dispensa apresentações: André Moura. Ex-deputado federal e estadual por Sergipe, ex-prefeito de Pirambu, ex-líder do governo Michel Temer e atual secretário de Governo do Rio de Janeiro, ele é hoje um dos protagonistas da cena política sergipana, figurando nas primeiras posições das pesquisas para o Senado em 2026.

Em nossa conversa, André falou sobre o peso da tradição familiar que carrega – desde o pai, o combativo radialista e ex-conselheiro do TCE Reinaldo Moura, até a filha, a deputada federal Yandra Moura, que já desponta como liderança no estado.

Falou ainda sobre o aprendizado adquirido na eleição para a Prefeitura de Aracaju, sobre como equilibra a vida pública e familiar, e destacou o valor de ter liderado o governo Temer, experiência que ele classifica como um verdadeiro “doutorado” em articulação política.

O pré-candidato também se posicionou sobre os julgamentos do chamado “núcleo do golpe”, a polarização que domina o país e os desafios de Sergipe diante de um cenário político equilibrado e repleto de indecisos.

André defendeu menos discurso e mais resultados, destacando exemplos da gestão no Rio de Janeiro que, segundo ele, podem ser adaptados à realidade sergipana.

A seguir, você confere a entrevista completa: perguntas e respostas na íntegra, e ao final, minha análise sobre o que essa conversa revela para o futuro da política sergipana.

TH - O que significa carregar uma tradição política tão forte na família?

André Moura:

Reinaldo, meu pai, é o meu ídolo maior. Cresci vendo a disciplina de um radialista combativo e respeitado, que virou deputado, conselheiro e presidente do TCE, e entendendo que política, antes de tudo, é serviço. É servir a população. Em casa, minha mãe, Lila, sempre foi o alicerce — exemplo de mulher que cuida, zela, reúne todos à volta, aconselha. Esse ambiente criou em mim uma preocupação genuína com o próximo, com os sergipanos e com fazer o melhor por Sergipe. A política é um dos caminhos para isso. Yandra também traz esse sentido de missão desde o berço: aprendeu com o avô, com a mãe, Lara, e comigo que ocupar o espaço público é responsabilidade diária — é trabalho duro e sério.

TH- O que ficou da eleição da Prefeitura de Aracaju para a trajetória de Yandra?

André Moura:

Ficou o aprendizado — foi uma campanha muito dura, com momentos de verdadeira alegria. Ela saiu a campo, conheceu Aracaju bairro a bairro, ouviu problemas reais dos aracajuanos e amadureceu. O “deu certo” está aí: entender a cidade por dentro e saber o que pode ser melhorado. O futuro político dela está sendo construído com o trabalho em Brasília, voltado sobretudo a Sergipe: articulação, entrega de projetos, portas abertas nos ministérios. É um degrau de cada vez, com a cabeça no lugar, muito diálogo e serviço prestado.

TH - Como concilia vida pública e família? Quem é você fora da política?

André Moura:

É difícil — sempre foi. Antes, mais do que agora, minha família sofreu com minhas ausências. A Yandra disse isso em um discurso no interior recentemente, e eu fiquei muito emocionado. A gente vai “dando jeito”, reorganizando rotinas, aprendendo a dizer “não” quando precisa. Fora da política, sou filho, sou irmão, sou amigo de muitos bons amigos, sou marido, pai e, agora, um avô que quer ser melhor do que foi como pai em termos de presença. É um esforço diário. Eu achava que o que me movia era a política; na verdade, eu gosto é de estar no meio do povo. E, cada vez mais, amo estar com minha família — dividir momentos só nossos, conversar, rir, ver um jogo do Flamengo. É isso.

TH - O que representou ter sido líder do governo Michel Temer?

André Moura:

Agarrei a oportunidade porque vi nela a chance de ajudar Sergipe — e ajudei. Foi um período de aprendizado intenso: entender como caminhar pelos corredores do Congresso, dos ministérios e do Planalto; saber a hora certa, o rito certo e a articulação necessária para potencializar o trabalho parlamentar. Isso me deu mapa, bússola e o telefone que toca quando Sergipe precisa. Posso dizer, sem dúvida, que fiz um “doutorado” em política e em relações institucionais. Vou levar isso comigo para o resto da vida — e sou grato ao Meu Senhor do Bonfim pela oportunidade.

TH - Como você enxerga os julgamentos sobre o “núcleo do golpe”?

André Moura:

Não vou falar por terceiros, mas vejo que, por conta da polarização, o ambiente político acirrado amplia narrativas e, muitas vezes, empobrece a análise isenta dos fatos. Justiça se faz com prova e serenidade. Acredito que o Brasil precisa de paz, de diálogo institucional e de mais respeito pela opinião do próximo, mesmo quando é um adversário. Cresci num ambiente em que respeito é tudo.

TH - Por falar em polarização, o Congresso ajuda ou atrapalha?

André Moura:

Polarização não é boa para o país — divide, derruba pontes e atrasa soluções. O Congresso espelha a sociedade e joga o jogo dos interesses de cada grupo. Meu desejo é que prevaleça o melhor para o Brasil: crescimento com desenvolvimento social, diálogo e responsabilidade fiscal. Menos grito, mais resultado. Quem me conhece sabe que sou menos de discurso e mais de ação. Sou dos que buscam resultados. Quero, aliás, trazer mais resultados para Sergipe — é minha missão de vida!

TH - Que aprendizados da Secretaria de Governo do RJ cabem em Sergipe?

André Moura:

Experiência de gestão, execução e foco em políticas públicas que impactam a vida real. No Rio, a prioridade é a segurança, e nós entregamos ações reconhecidas: Segurança Presente, Me Leva RJ, Operação Lei Seca, entre outros. É gestão orientada a resolver — o povo quer isso: resultados, ação para além do discurso. Quando a comunidade pede uma base policial é porque se sente mais protegida — e isso é métrica de confiança. Em Sergipe, dá para adaptar essa lógica: metas claras, presença do Estado onde a população sente, avaliação contínua e transparência.

TH - Como recebeu a pesquisa ECM/Cinform de 15 de setembro, que o coloca numericamente à frente num cenário equilibrado e com muitos indecisos?

André Moura:

Com humildade. Os números positivos são fruto de trabalho e do reconhecimento do nosso povo, sempre muito generoso. Encaro isso como motivação para ampliar o diálogo, construir e, especialmente, apresentar propostas sólidas. Eleição justa é disputa de ideias, sem ataques pessoais – e quem me conhece sabe que busco fazer campanha em torno de propostas, com respeito ao eleitor e aos adversários. Com tantos indecisos, como a pesquisa aponta, a responsabilidade é dobrada: explicar o que fiz, o que sei fazer e como iremos entregar.

Conclusão pessoal

A entrevista com André Moura deixa evidente duas facetas: de um lado, o político experiente, que acumula passagens por Sergipe, Brasília e Rio de Janeiro, sempre em posições de destaque; de outro, o pai, marido e avô que faz questão de mostrar seu lado humano, próximo da família e do povo. Esse contraste o ajuda a construir uma imagem de proximidade, ao mesmo tempo em que reforça sua capacidade de articulação e de entrega.

Mas é impossível não notar: diante das questões mais polêmicas, Moura preferiu contemporizar. Falou em diálogo, respeito, serenidade e resultados — sempre em tom conciliador. Fugiu de embates diretos, especialmente quando o tema poderia suscitar divisões ou despertar lembranças de episódios controversos de sua trajetória. Essa escolha pode ser vista tanto como habilidade política, capaz de reduzir desgastes num cenário polarizado, quanto como estratégia de se manter em uma zona de conforto, sem enfrentar de frente os pontos mais espinhosos.

O fato é que André Moura aparece bem colocado nas pesquisas, mas ainda terá de dialogar com uma rejeição significativa e com um eleitorado indeciso. O apoio do governador Fábio Mitidieri será um ativo importante, mas não garante por si só a vitória. Mais cedo ou mais tarde, o pré-candidato precisará encarar os temas que hoje evita — e convencer os sergipanos de que sua experiência, sua rede de articulações e seu discurso de “menos fala e mais resultado” são suficientes para deixá-lo novamente entre os protagonistas em Brasília.

Na minha modesta leitura, André Moura que se apresenta agora tenta se reinventar: menos confronto, mais serenidade. Resta saber se, em 2026, o eleitor sergipano vai preferir essa versão moderada ou se exigirá respostas mais diretas sobre o passado e compromissos mais firmes para o futuro.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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