SOMBRA DO PODER: QUEM REALMENTE MOVE AS PEÇAS EM ARACAJU?

POR TIAGO HÉLCIAS

Nos últimos meses — e com intensidade nas últimas semanas — a Prefeitura de Aracaju transformou-se no palco de uma tragicomédia política digna de streaming. No roteiro, uma protagonista visível, a prefeita Emília Corrêa, e um coprotagonista nas sombras, o empresário Edivan Amorim, cuja presença é sentida em cada linha do script administrativo da capital sergipana.

Segundo setores da imprensa local, as falhas — cada vez menos sutis — da gestão Emília têm sido, com certa condescendência, atribuídas à influência direta de Edivan. E não estamos falando de influência branda, protocolar. Falam, com todas as letras, que ele “indicou e manipula” nomes cruciais da engrenagem pública: Finanças, Saúde, Educação, Infraestrutura, Procuradoria-Geral do Município, EMURB e EMSURB. Ou seja, onde há orçamento gordo, há dedo do “capô”.

Essa concentração de poder informal não é exatamente uma novidade. Amorim é velho conhecido dos bastidores sergipanos, e sua trajetória é recheada de capítulos intensos. Quem não lembra de 2013? Naquele ano, ele travou um duelo político contra o então governador Marcelo Déda, usando o Proinveste como munição: um projeto vital que visava captar R$ 567 milhões para obras estruturantes em Sergipe. Amorim, com sua notória habilidade de articulação nos bastidores, tensionou o processo e criou obstáculos que atrasaram a liberação dos recursos — tudo em nome da oposição ferrenha.

Depois da derrota do irmão Eduardo Amorim na eleição para o governo estadual em 2014, Edivan saiu de cena… mas só das manchetes. Nos bastidores, ele seguiu ativo, mantendo suas raízes bem fincadas no subsolo da política local. E agora, com Emília no comando da prefeitura, ele parece ter voltado com força total — mas sem crachá, sem cargo, sem CPF em nota de empenho. Um fantasma com poder de veto.

A pergunta que ecoa nos bastidores e nas redações é: quem governa Aracaju? A prefeita eleita ou o empresário que opera como uma espécie de CEO da máquina municipal?

ÔNIBUS ELÉTRICOS E A ROTA DO ESCÂNDALO

A novela dos ônibus elétricos entrou em cena para adicionar escândalo ao drama. O Tribunal de Contas do Estado (TCE/SE) emitiu duas medidas cautelares após identificar indícios robustos de sobrepreço na compra dos veículos. Um suposto acréscimo de R$ 850 mil por unidade — o que, em um lote fechado, chega a estratosféricos R$ 28,5 milhões.

Detalhe: os veículos foram adquiridos por meio de adesão a uma ata de registro de preços de Belém do Pará. E foi aí que o TCE levantou a placa de impedimento: falhas processuais, cláusulas restritivas e ausência de competitividade. Uma operação que deveria ser transparente e vantajosa virou suspeita e nebulosa.

Mais grave: a anulação da concorrência pública foi feita pela prefeita de forma unilateral, sem decisão judicial e sem base técnica clara — o que levou o conselheiro Flávio Conceição a classificar o ato como abuso de poder. O TCE não apenas suspendeu pagamentos e aditivos, como exigiu providências imediatas sob pena de multa de R$ 90 mil à gestora.

A DEFESA: MALABARISMO OU CONVICÇÃO?

A prefeitura tentou rebater as críticas alegando que tudo ocorreu dentro da legalidade e que a anulação do certame foi, pasmem, baseada em “orientações” anteriores do próprio TCE. Um argumento que soa mais como jogo de palavras do que defesa jurídica. Sobre o sobrepreço? A culpa é do ICMS de 19% em Sergipe, dizem. Só que outros estados também têm impostos e ainda assim compram mais barato. A conta não fecha, e a paciência do contribuinte, também não.

Para completar o cenário, fontes apontam que a operação dos ônibus elétricos teve conexões com Valdevan Noventa, deputado federal cassado e acusado de irregularidades na presidência do Sindicato dos Rodoviários de São Paulo. Se confirmadas as conexões, o caso pode escalar de escândalo regional a encrenca nacional.

EDIVAN: O DONO DO BARALHO?

A verdade é que o suposto protagonismo de Edivan Amorim na gestão de Emília Corrêa já não cabe mais no campo da especulação. Para muitos, Emília é hoje apenas a face institucional de um governo conduzido por uma só batuta — e uma batuta que não precisa de cargo público para tocar a orquestra.

Edivan, que desde que virou genro de João Alves, passou a mirar a política como um tabuleiro de negócios, hoje atua como articulador-mor da prefeitura. Sua obsessão por controle político não é novidade. Mas o que tem preocupado especialistas — e inquietado os técnicos do TCE — é que ele faz tudo isso sem ser ordenador de despesas, sem responsabilidade fiscal, e sem aparecer no Diário Oficial. Já Emília, que assina, carimba e responde, pode herdar um passivo jurídico intransponível.

UM OLHAR PESSOAL, UM ALERTA PÚBLICO

Conheço a prefeita Emília Corrêa desde os tempos em que ela atuava como defensora pública. Dividimos, muitas vezes, os camarins da TV Atalaia, e testemunhei de perto sua atuação destemida como vereadora de oposição. Justamente por isso, é impossível para mim fingir surpresa — ou indiferença.

Ver sua trajetória agora marcada por suspeitas, decisões questionáveis e influências externas tão explícitas é, no mínimo, desconcertante. O poder muda as pessoas — ou as revela. Mas ainda guardo comigo a esperança de que Emília recupere o pulso da própria gestão.

No fundo, e digo isso com o respeito de quem já a viu brilhar por si mesma, torço para que ela não tenha se tornado apenas mais uma peça — bem intencionada, mas manipulável — nas mãos hábeis de velhas raposas que já sabem de cor e salteado como transformar uma prefeitura em balcão.

Porque, se isso for verdade, Aracaju está sendo governada por quem o povo não elegeu. E aí, meus amigos, não estamos mais diante de uma crônica. Estamos diante de um golpe silencioso, elegante — e muito bem articulado.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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