NOVA INDICAÇÃO AO STJ: LULA ESCOLHE TIA DE PREFEITO DE MACEIÓ ENVOLVIDA EM POLÊMICA DE CENSURA
POR TIAGO HÉLCIAS
No tabuleiro político-judiciário brasileiro, algumas peças são movidas com cuidado — ou pelo menos assim deveria ser. A indicação de Maria Marluce Caldas Bezerra para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelo presidente Lula segue um padrão já conhecido. Logo de início, chama atenção o fato de ser tia de João Henrique Caldas, o JHC, prefeito de Maceió.
Lula e o jogo das indicações ao STJ
As nomeações presidenciais para o STJ historicamente transitam entre o mérito técnico e o xadrez político. Ao longo de seus mandatos, Lula também fez escolhas que refletiram acordos partidários, interesses regionais e alianças estratégicas. Garantir cadeiras no STJ é, em muitos casos, garantir influência em um dos tribunais mais importantes do país — responsável por julgamentos que impactam diretamente política, economia e grandes interesses nacionais.
A indicação de Maria Marluce, portanto, não surge de forma isolada. Ela se insere em um contexto recorrente, em que fatores como parentesco, conexões políticas e circunstâncias regionais se somam ao currículo na hora da escolha.
A influência do clã Caldas em Alagoas
JHC, filho do ex-deputado federal Henrique Caldas, construiu sua trajetória na política alagoana com forte presença na capital. Sua gestão à frente de Maceió tem sido marcada por debates intensos, incluindo temas ambientais e urbanísticos. Um episódio de grande repercussão foi o acordo bilionário com a Braskem, empresa envolvida no desastre ambiental que comprometeu bairros inteiros da cidade.
Para observadores da cena política, ter uma parente próxima no STJ pode representar um elemento relevante na correlação de forças, especialmente em pautas sensíveis que, direta ou indiretamente, podem passar pela Corte.
A batalha jurídica e o controle da narrativa
Antes mesmo da sabatina, Maria Marluce se envolveu em um embate judicial com a advogada pernambucana Adriana Mangabeira, conhecida por sua postura crítica nas redes sociais. Adriana fez questionamentos públicos sobre a indicação, citando aspectos de carreira e relações políticas.
Em resposta, a futura ministra recorreu à Justiça para solicitar a remoção de postagens consideradas ofensivas e o bloqueio do uso de determinados termos para se referir a ela. A decisão da 12ª Vara Cível de Maceió determinou a exclusão de conteúdos sem comprovação, mas preservou o direito de Adriana manter seu perfil e se manifestar, ressaltando a importância da liberdade de expressão.
O episódio expõe um aspecto menos debatido das indicações judiciais: a disputa pelo controle de narrativas e o uso do Judiciário como instrumento para mediar embates de opinião antes mesmo da sabatina.
O STF e seu momento delicado
No cenário mais amplo, o Supremo Tribunal Federal atravessa um dos períodos mais desafiadores de sua história recente. Entre decisões de alto impacto eleitoral, tensões com outros poderes e críticas sobre suposto ativismo judicial, a Corte está sob atenção intensa da opinião pública. Cada nome indicado para as instâncias superiores carrega, junto ao currículo, o peso das alianças políticas e das expectativas que ultrapassam o campo estritamente jurídico.
Em tempos assim, a toga deixa de ser apenas símbolo de imparcialidade para se tornar peça central de um jogo onde o Direito e a política se entrelaçam, e onde cada voto pode influenciar profundamente o futuro institucional do país.
Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.
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