A PICANHA, O STF E O OLHAR PORTUGUÊS SOBRE O BRASIL

POR TIAGO HÉLCIAS

Em terras lusitanas, onde o fado embala as noites e o bacalhau é rei, a notícia de que Donald Trump, em um de seus movimentos mais inusitados, prometeu entregar aos brasileiros a picanha que Lula havia prometido, causou, no mínimo, um misto de surpresa e divertimento. O jornal Público, com sua habitual perspicácia, trouxe à tona a análise do economista Paulo Gala, que, em uma reviravolta digna de roteiro, sugeriu que o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, incluindo a carne bovina, poderia, na verdade, beneficiar o consumidor tupiniquim. Mais oferta interna, preços menores. Uma lógica que, para o olhar português, acostumado a uma política mais contida, soa quase como uma fábula. Mas a picanha, meus caros, é apenas a ponta do iceberg de uma complexa teia de acontecimentos que a imprensa portuguesa tem acompanhado com atenção, e por vezes, com uma ponta de perplexidade.

O STF e Alexandre de Moraes: Entre a Soberania e a Preocupação

Se a picanha de Trump é o prato principal, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a figura do ministro Alexandre de Moraes são, sem dúvida, os temperos mais picantes dessa narrativa. A imprensa portuguesa, atenta aos desdobramentos políticos do Brasil, tem dedicado considerável espaço à atuação do STF, especialmente no que tange às investigações e sanções contra figuras políticas e empresariais. A recente imposição da Lei Magnitsky por parte dos Estados Unidos contra Alexandre de Moraes, noticiada por veículos como a RTP e o Público, gerou um burburinho considerável.

A visão que se tem por aqui é de um poder judiciário brasileiro atuante, por vezes até demais, em um cenário político polarizado. Há uma linha tênue entre a defesa da democracia e a percepção de um ativismo judicial que, para os padrões europeus, pode parecer excessivo.

As discussões sobre a liberdade de expressão e a remoção de conteúdos ilegais das redes sociais, temas abordados pelo presidente do STF em palestras em Lisboa, também ressoam forte por aqui. A imprensa portuguesa, que valoriza a liberdade de imprensa e a pluralidade de opiniões, observa com cautela as medidas que visam regular o ambiente digital no Brasil.

Há uma preocupação latente com os limites do poder e a garantia dos direitos individuais, mesmo diante de ameaças à ordem democrática. A sanção a Moraes, vista por alguns como uma interferência externa na soberania brasileira, é, para outros, um sinal de alerta sobre a necessidade de transparência e limites na atuação de qualquer poder.

As Tarifas e a Economia: Um Jogo de Xadrez Geopolítico

O tarifaço de Trump, que inicialmente parecia um ato isolado de protecionismo, ganha novas camadas de interpretação quando analisado sob a ótica da imprensa portuguesa. A conexão entre as tarifas e a situação política interna do Brasil, especialmente a questão de Jair Bolsonaro e os processos no STF, não passou despercebida.

A tentativa de Trump de vincular as sanções econômicas a um pedido de anistia para o ex-presidente brasileiro foi amplamente divulgada e, em muitos círculos, vista com ceticismo e até mesmo com indignação. Para os portugueses, acostumados a uma diplomacia mais formal e menos personalista, a abordagem de Trump soa como uma intromissão descarada nos assuntos internos de um país que se diz soberano.

No entanto, a análise econômica que aponta para uma possível queda nos preços da carne no Brasil, como consequência indireta das tarifas, é um ponto de interesse. A ideia de que uma medida protecionista possa, paradoxalmente, beneficiar o consumidor do país-alvo, é um paradoxo que a imprensa portuguesa não deixa de notar.

É um lembrete de que, na complexa dança da economia global, as consequências nem sempre são as esperadas, e que o jogo de xadrez geopolítico pode ter movimentos surpreendentes.

O Brasil Visto de Portugal: Entre a Admiracão e a Preocupação

Para quem vive, como eu, em Portugal, o Brasil é um país de laços históricos e culturais profundos. Há uma admiração pela sua vitalidade, sua cultura e seu povo. No entanto, a cobertura da imprensa portuguesa sobre o Brasil reflete também uma preocupação com a instabilidade política, as tensões sociais e os desafios institucionais.

O caso da picanha de Trump, do STF e de Alexandre de Moraes são apenas exemplos de como a complexidade brasileira é percebida e analisada por aqui. É um olhar que busca compreender, mas que também questiona e, por vezes, se inquieta com os rumos de um país tão próximo e, ao mesmo tempo, tão diferente.

Em suma, a picanha que Lula prometeu e Trump, de forma inusitada, parece estar entregando, é mais do que um simples corte de carne. É um símbolo de uma intrincada trama política e econômica que, vista de Portugal, revela as nuances e os desafios de uma nação em constante ebulição. E para mim', essa é uma crônica que merece ser saboreada, com um toque de bom humor e, claro, um bom vinho português.

Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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