RANKING DE QUALIDADE DE VIDA: ARACAJU NO PÓDIO, O CIDADÃO NO LIMITE
POR TIAGO HÉLCIAS
Entre os destaques do IPS Brasil 2025, a capital sergipana exibe bons números. Mas a desigualdade social, a precariedade dos serviços e o lixo acumulado ainda sujam a narrativa oficial.
É sempre assim: de tempos em tempos, surge um ranking que tenta massagear o ego das cidades brasileiras. O mais recente é o IPS Brasil 2025 (Índice de Progresso Social), que jogou confete em Aracaju ao colocá-la entre as três capitais nordestinas com melhor qualidade de vida. Bronze no peito, só atrás de João Pessoa e Teresina.
Mas… será que esse pódio combina com a realidade do povo aracajuano?
Porque, veja: o morador da zona de expansão, do Coqueiral, do Japãozinho ou da Farolândia, que encara fila no posto de saúde, ônibus lotado e rua sem saneamento, talvez não reconheça essa Aracaju dos gráficos. A cidade real tem cheiro de lixo acumulado e som de buzina no engarrafamento.
O QUE É ESSE TAL DE IPS?
Antes que me acusem de implicância, vamos explicar o ranking. O IPS Brasil é produzido pela Social Progress Imperative em parceria com instituições como o Instituto Humanize e o Imazon. A proposta é medir o progresso das cidades sem levar em conta o PIB, focando em aspectos como acesso à educação, saúde, saneamento, segurança e qualidade ambiental.
A capital sergipana alcançou 66,98 pontos, superando metrópoles como Salvador e Recife. Mas… calma. Nem tudo são flores — ou coleta seletiva.
O LIXO ESCONDIDO DEBAIXO DO TAPETE
Apesar da medalha de bronze no geral, Aracaju amarga o pior desempenho entre todas as capitais brasileiras no quesito “lixo domiciliar”. De acordo com o próprio IPS, apenas 25% dos resíduos sólidos têm destinação ambientalmente adequada. O resto vai pro lixão, céu aberto, ou Deus sabe onde.
Essa vergonha ambiental não nasceu agora, é verdade. Vem se arrastando por anos — e foi ignorada solenemente por gestões anteriores, inclusive pela de Edvaldo Nogueira, o “Prefeito Perfeito”, que deixou a cadeira no fim de 2024. Mas a responsabilidade agora está nas mãos da atual gestora, Emília Corrêa, que assumiu com o discurso da mudança — e até aqui não deu a resposta necessária.
Aliás, se é pra “herdar” problemas, que se herde também a coragem de resolvê-los. Porque o povo não vota pra ter desculpa, vota pra ter solução.
A QUALIDADE DE VIDA QUE NÃO CHEGA A TODOS
Quando se fala em qualidade de vida, é preciso olhar além dos números frios. A cidade ainda convive com altos índices de desigualdade, aumento da população em situação de rua, e um transporte público que beira o colapso. O sistema de saúde, em especial nas unidades de urgência, segue sobrecarregado — com casos recorrentes de falta de insumos, superlotação e demora no atendimento.
E segurança? O Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que, embora os homicídios tenham caído em parte da capital, a sensação de insegurança ainda é constante, especialmente nas periferias.
A REALIDADE NÃO CABE NO POWERPOINT
A verdade é que rankings como esse, quando não contextualizados, servem mais à propaganda do que ao progresso. A prefeitura corre pra publicar artes coloridas nas redes sociais, tentando fazer o povo esquecer os buracos, os alagamentos e a falta de coleta regular de lixo.
Mas a Aracaju real é aquela onde o asfalto derrete no calor de 40 graus e a linha de ônibus some no fim da tarde. É onde o trabalhador pega duas conduções pra ganhar um salário que mal dá pro aluguel.
UMA GESTÃO QUE PRECISA MOSTRAR A QUE VEIO
A nova prefeita, Emília Corrêa, assumiu com o discurso da moralidade, da mudança, da política feita “pelo povo e para o povo”. Mas até agora, o que dizem, é que tem faltado firmeza para lidar com os problemas históricos da cidade. A desculpa da herança maldita já está vencida. A cidade exige mais do que discursos e redes sociais bem editadas.
Emília tem em mãos a oportunidade — e a responsabilidade — de mostrar que sua gestão pode romper com o ciclo de abandono institucional que transformou Aracaju num laboratório de boas intenções e más execuções.
UM OLHAR DE QUEM NÃO ESQUECE
Falo aqui como filho da terra. De quem nasceu em Aracaju, formou-se ali, e construiu sua carreira com o microfone na mão e o coração na cidade. Mesmo à distância, mantenho os olhos atentos e a esperança crítica de que essa capital, tão cheia de potencial e tão maltratada historicamente, possa de fato se reinventar.
Ranking é bonito no papel. Mas qualidade de vida de verdade se mede na rotina do povo, na dignidade do cotidiano, e na coragem de quem governa.
confita os dados oficiais completos AQUI!!
Comentários