O BRASIL VIVE EM UM LIMBO: QUEM ESTÁ MAIS “ALGEMADO” - BOLSONARO OU A “DEMOCRACIA”?
POR TIAGO HÉLCIAS
Após a operação da Polícia Federal e a instalação da tornozeleira eletrônica, Jair Bolsonaro se apresentou com o brilho dramático de um protagonista em crise. Tratou tudo como “suprema humilhação”, reclamou de “perseguição política” e garantiu: “não sou criminoso, não tem nada comprometedor aí; nunca pensei em sair do Brasil”. E, claro, garantiu que o pen drive achado no banheiro — sim, um pen drive — era desconhecido. “Tenho a menor ideia”, disse, sugerindo que poderia ter sido “plantado” pela PF e chegando a brincar que iria “questionar Michelle” a respeito .
O montante apreendido? Cerca de US$ 14 mil e R$ 8 mil em espécie — que ele justificou como “sempre guardei dólar em casa”, de acordo com sua declaração aos jornalistas .
As medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes estão claras: tornozeleira eletrônica, recolhimento noturno (19h às 7h), proibição de uso de redes sociais, afastamento de contato com embaixadas, diplomatas e outros investigados (incluindo os filhos), além da retenção do passaporte desde fevereiro .
Tudo isso ocorre enquanto os autos da investigação apontam suposta e pretenciosa articulação junto ao filho Eduardo e ao ex-presidente Donald Trump — buscando sanções, tarifas e intervenção estrangeira para pressionar o Judiciário brasileiro — como tentativa de atentado à soberania e obstrução da Justiça.
O que pinta nos bastidores?
Narrativa externa em jogo – Trump interveio com cartas públicas e ameaça de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, num esforço de apoio que acabou endossando o argumento de Moraes sobre “interferência estrangeira”.
Tensão diplomática – Além das pressionadas vindas de Washington, o secretário Marco Rubio revelou sanções diretas contra Moraes e supostos aliados por parte dos EUA, acelerando a crise.
Reações extremas – Falam em “ditadura judiciária” e acusam de “perseguição política sem limites”, enquanto do outro lado forças democráticas celebram – para uns, é justiça; para outros, é espetáculo com excessos.
Editorial
E a pergunta que ecoa, no meio deste quebra-cabeça político-judicial digno de roteirista preguiçoso: quem, de fato, manda no Brasil hoje?
Vemos um ex-presidente algemado virtualmente – não por sentença, mas por medida cautelar –, e um ministro do STF agindo com autoridade quase imperial, cozinhando uma trama que mistura suposta traição à pátria com intrigas internacionais.
O ponto é: até onde vai o poder de um só homem encastelado no Judiciário? Tomar decisões que restringem a liberdade de expressão, limitação de acesso a redes sociais e monitoramento eletrônico de um ex-presidente é normal em qualquer país? Onde termina a justiça e começa a perseguição?
Bolsonaro diz que não é bandido e chama o pen drive no banheiro de farsa. Verdade ou mentira? A PF já periciou o conteúdo? O sigilo, segundo o STF, foi quebrado parcialmente – e agora cabe ao país exigir respostas e transparência.
Não importam as cores partidárias: o que está em risco é o equilíbrio entre os Poderes, a liberdade de manifestação e o próprio conceito de soberania nacional – justo aquilo que se alega estar sob golpe.
O Brasil vive em um limbo: justiça seletiva ou política judicializada? Estado democrático ou troféu de poder pessoal?
Se é golpe com tornozeleira ou golpe togado, a pergunta central segue firme: hoje, quem está mais algemado – Bolsonaro ou a própria democracia brasileira?
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