MACEIÓ NO IPS 2025: A CIDADE DO MARKETING CONTRA A REALIDADE DA RUA
POR TIAGO HÉLCIAS
Durante anos, enquanto apresentava o Balanço Geral Alagoas, mostrei os becos, vielas e bairros de Maceió que jamais apareceriam nos stories patrocinados da prefeitura. Conheci a realidade da capital alagoana como poucos. Denunciei, apontei soluções e enfrentei o sistema. Paguei um preço alto. Minha saída teve, sim, um componente de enfrentamento político. Não baixei a cabeça — e, por isso mesmo, jamais comprei a farsa de uma Maceió de Instagram, com filtros, drones e trilha sonora publicitária.
Enquanto o prefeito João Henrique Caldas (JHC) exibe uma Maceió reluzente nas redes sociais, com direito a trilha sonora, drone e legenda motivacional, os números do IPS apontam uma verdade menos “instagramável”. A cidade que ele governa desde 2021 — após assumir o segundo mandato em 2024 — tem índices abaixo da média nacional em áreas sensíveis, como:
- Acesso à moradia digna
- Segurança alimentar
- Acesso à educação de qualidade
- Inclusão digital e conectividade real (além do 4G na orla)
- Desigualdade social gritante entre parte baixa (turística) e parte alta (popular)
O que é o IPS Brasil?
O IPS Brasil é o Índice de Progresso Social dos Municípios, uma iniciativa que avalia a qualidade de vida da população brasileira sem considerar indicadores econômicos tradicionais, como o PIB ou renda per capita. Em vez disso, o índice foca exclusivamente no bem-estar humano, levando em conta aspectos como saúde, educação, segurança, moradia, saneamento e acesso ao conhecimento.
O objetivo do IPS é responder a uma pergunta fundamental:
“Os habitantes de determinado município têm qualidade de vida e acesso aos direitos básicos para viver com dignidade?”
A metodologia é baseada em três grandes dimensões:
- Necessidades Humanas Básicas (moradia, segurança pessoal, água e saneamento, nutrição e cuidados médicos básicos);
- Fundamentos do Bem-Estar (acesso ao conhecimento, informação, saúde e qualidade ambiental);
- Oportunidades (direitos individuais, liberdade de escolha, inclusão social e acesso à educação superior).
Essas dimensões geram uma nota de 0 a 100, quanto mais próximo de 100, maior o progresso social.
O estudo é realizado pela Rede Progresso Social Brasil, em parceria com o Social Progress Imperative e outras instituições brasileiras.
Nesse sentido, no mais recente Índice de Progresso Social (IPS) Brasil 2025, Maceió aparece em 7º lugar entre as nove capitais nordestinas, numa escala que avalia qualidade de vida com base em 52 indicadores sociais distribuídos em três dimensões: necessidades humanas básicas, fundamentos do bem-estar e oportunidades.
Pois é. Entre o marketing e a realidade, a capital alagoana parece estar perdida no filtro do Instagram.
A cidade vive um paradoxo clássico: avança onde a lente do marketing aponta, mas patina onde a lupa da cidadania deveria estar.
Enquanto isso, a parte alta, onde vivem a maioria dos trabalhadores, segue com esgoto a céu aberto, transporte coletivo precário, falta de equipamentos culturais e áreas de lazer abandonadas.
DESEMPENHO DE MACEIÓ NO RANKING IPS BRASIL 2025:
O Índice de Progresso Social avalia dimensões fundamentais para a vida urbana — e Maceió fracassa nas principais:
Dimensão | Nota (0 a 10) |
Saneamento Básico | 2.5 |
Segurança Pública | 2.8 |
Meio Ambiente | 3.1 |
Mobilidade Urbana | 3.2 |
Educação | 3.5 |
Habitação | 3.9 |
Renda e Trabalho | 4.0 |
Saúde | 4.2 |
As piores notas estão em áreas absolutamente essenciais, como saneamento, segurança e mobilidade. O que temos? Um colapso silencioso. Enquanto isso, vídeos impecavelmente editados invadem as redes sociais da prefeitura, mostrando entregas pontuais como se fossem revoluções urbanas.
Veja, o IPS não está dizendo que Maceió é uma cidade horrível. Está dizendo que falta política pública séria. Que não adianta plantar coqueiro se o povo não tem saneamento. Que não adianta pintar a praça se a escola está caindo. Que não adianta engajamento se não há investimento no que realmente importa.
Com uma média geral entre as piores do Brasil, a capital alagoana entra, mais uma vez, no ranking das cidades que acumulam problemas estruturais crônicos, mas que continuam sendo maquiadas com boas trilhas sonoras e cortes de drone estrategicamente editados.
Aliás, já passou da hora de entendermos que “cidade inteligente” não é a que tem wi-fi na praça, mas sim aquela que entrega saúde, mobilidade e dignidade pra quem vive na periferia.
A realidade não se edita com filtros. O povo da parte alta da cidade — do Clima Bom, do Benedito Bentes, do Jacintinho — vive o abandono. Vive o descaso. Vive o oposto do que se vende. E quem denuncia isso, vira “inimigo do progresso”.
O ranking IPS 2025 não inventou nada. Apenas quantificou a vergonha. Os números não mentem. São o reflexo de uma cidade esquecida, negligenciada, ignorada — e maquiada. Porque a maquiagem, meus amigos, pode esconder a olheira, mas nunca cura a doença.
Maceió virou um produto publicitário. Só que quem consome essa mentira vive numa bolha. A maioria da população — aquela que rala, que acorda cedo, que pega transporte quebrado, que é atendida em UPAs sucateadas — essa sim conhece a verdade. E está cansada.
Imprensa boa, é imprensa silenciada
Denunciar essas realidades enquanto apresentava o programa me trouxe reconhecimento popular, sim, mas também me colocou na mira dos que preferem aplausos à prestação de contas. Saí do ar porque falei demais. E continuo falando — agora por aqui — porque falar a verdade, nesse país, continua sendo revolucionário.
Se eu tivesse trocado o microfone por um tripé e a denúncia por uma dancinha no TikTok institucional, talvez ainda estivesse lá. Mas preferi estar com o povo.
O prefeito João Henrique Caldas, o JHC, construiu uma imagem de gestor moderno, digital, descolado. E talvez isso baste para parte da população que consome política como entretenimento.
O que essa gestão ainda não entendeu é que o povo, a grande maioria, já sabe. Já sacou que tem algo de podre nesse paraíso tropical vendido nos anúncios. Já percebeu que entre o vídeo do Instagram e a vida real há um abismo do tamanho da irresponsabilidade administrativa.
O povo está cansando. Porque like não sustenta filho. E propaganda não cura dor.
O recado do IPS 2025 é claro: Maceió está andando pra trás. E não é porque falta beleza natural ou simpatia no povo. É porque sobra indiferença no poder.
E se depender de mim, essa verdade continuará ecoando — seja na TV, no rádio, aqui neste blog. Porque a minha missão segue a mesma:
FALAR AQUILO QUE MUITOS NÃO TEM CORAGEM.
confira o estudo completo AQUI!
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