O STF E A POLITIZAÇÃO DA JUSTIÇA: QUANDO MORAES VIRA O DONO DO CIRCO
As oitivas realizadas pelo Supremo Tribunal Federal sobre os atos de 8 de janeiro revelam muito mais sobre o teatro político montado por Alexandre de Moraes do que sobre a busca real por justiça. Aquilo que deveria ser um procedimento jurídico sério, técnico e fundamentado transformou-se num espetáculo de vaidades e exposição midiática. O conteúdo? Esse ficou em segundo plano. A forma — e, sobretudo, o protagonismo e a vaidade — tomaram conta.
MORAES NO COMANDO DO ESPETÁCULO
O ministro Alexandre de Moraes não é apenas relator. É diretor, roteirista, juiz e estrela principal. A cada nova oitiva, o Supremo se aproxima mais de um tribunal de exceção do que de uma corte constitucional. A presença constante das câmeras, os momentos de “descontração”, as provocações teatrais e a condução tendenciosa do processo indicam um Judiciário que deixou de ser imparcial para assumir, sem pudor, um papel político central na história recente do Brasil.
BOLSONARO E O JOGO DE CENAS
Durante o interrogatório de Jair Bolsonaro, o que menos se viu foi busca pela verdade jurídica. O que mais se viu? Uma disputa de narrativas. Quando o ex-presidente, em tom irônico, convida Moraes para ser seu vice em 2026, o ministro responde com frieza. A cena, que ganhou as redes, revela a superficialidade do momento: entre acusações gravíssimas e discussões sobre um suposto golpe de Estado, o palco foi dividido por piadas e vaidades.
Essa teatralidade expõe um Judiciário que, ao invés de julgar com serenidade e base legal, prefere o embate público, a imagem, a construção de heróis e vilões. Uma corte que se coloca como salvadora da democracia, mas age como agente político ativo.
PIX, POPULARIDADE E O CINISMO DA BANCADA TOGADA
Bolsonaro ainda surpreendeu ao admitir que sobrevive hoje graças a uma campanha de PIX: R$ 18 milhões em doações voluntárias. A frase soou como deboche — e foi usada assim — por quem vê nisso um escárnio. Mas há algo mais profundo: o ex-presidente mobiliza apoio espontâneo, enquanto o sistema usa a máquina pública e os holofotes do Judiciário para tentar desacreditá-lo.
Comparar a arrecadação com a campanha Criança Esperança pode parecer infeliz, mas é um reflexo direto do momento: uma sociedade polarizada, onde parte da população não enxerga mais legitimidade no Supremo e prefere sustentar um político do que confiar nas instituições.
A MINUTA E A FÁBULA DO GOLPE
O ponto central da acusação é a suposta “minuta golpista”. Um documento — que nem sequer chegou a ser assinado ou publicado — virou a grande prova de um golpe que nunca se concretizou. Bolsonaro nega qualquer “enxugamento” do texto e se refere à expressão “minuta do mal” com sarcasmo, como quem sabe que o documento, em si, virou símbolo de uma narrativa fabricada.
A ideia de que um papel, redigido sem efeitos práticos, poderia ser usado como prova de um golpe real é, no mínimo, frágil juridicamente. Mas, na lógica do espetáculo, não é necessário que algo aconteça — basta que pareça que poderia ter acontecido.
OS “PATRIOTAS” VÃO PARA O SACRIFÍCIO
A tentativa de Bolsonaro de se distanciar dos acampamentos pró-intervenção militar é, também, parte do jogo. Classificou como “malucos” aqueles que pediam o AI-5. Curioso, já que por muito tempo esses mesmos manifestantes foram tratados como “patriotas” por parte da base bolsonarista. Mas o Supremo, em sua sanha por punir, transformou esses personagens em bodes expiatórios. O erro foi o radicalismo, a manipulação da narrativa é total.
SE HOUVESSE “BASE”, TERIA ACONTECIDO?
Um dos trechos mais reveladores da oitiva foi a admissão de que houve, sim, reuniões com comandantes das Forças Armadas para discutir alternativas pós-derrota eleitoral. Bolsonaro foi direto: não houve golpe porque não havia “clima”, “base” e “oportunidade”. É uma confissão sem ser. Se houvesse condição, a história poderia ter sido diferente? A frase é um campo aberto para interpretações — e o Supremo saberá como explorá-la politicamente.
OS GENERAIS E A “INOCÊNCIA TÉCNICA”
Nos demais depoimentos, como os de Augusto Heleno e Mauro Cid, o tom foi o mesmo: negar envolvimento, relativizar ações, apontar tecnicalidades. Heleno, por exemplo, diz que não houve tempo hábil para infiltrar agentes da Abin nas campanhas. Não que fosse ilegal — apenas que não deu tempo. É o tipo de justificativa que revela mais do que esconde.
ROMANCE, BRUNCH E A BOLHA DO SUPREMO
Ao final das oitivas, o ministro Moraes encerra os trabalhos desejando a todos um “belo brunch” e um feliz Dia dos Namorados. A cena, que seria cômica se não fosse trágica, mostra como parte do STF vive desconectada da realidade. Enquanto o país discute golpe de Estado, democracia e prisão de militares e civis, o ministro brinca com brunchs e namorados. É o símbolo da bolha de Brasília: o Brasil real sangra; o Brasil togado brinda.
CONCLUSÃO: A JUSTIÇA COMO INSTRUMENTO POLÍTICO
O que vimos nas oitivas não foi justiça. Foi política, vaidade, disputa narrativa e tentativa de consagração de um enredo onde o Supremo é o herói e Bolsonaro, o vilão. A imparcialidade ficou no caminho. A Constituição virou pano de fundo para o show.
A politização do STF é um fato incontornável. Não se trata mais de teoria — é realidade. Moraes, com seu protagonismo quase absoluto, transformou o tribunal numa extensão do Executivo e num braço armado do Legislativo. A toga virou palanque. E a democracia, tão falada, segue sendo usada como escudo retórico para decisões amplamente arbitrárias.
No fim, o que resta ao povo é assistir — ora perplexo, ora entediado — a mais um capítulo da novela institucional brasileira. Uma novela onde a Justiça deixou de ser cega para se tornar seletiva. Onde o palco vale mais que o processo. Onde o direito virou, definitivamente, espetáculo e o povo (nós) palhaço.
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