ENQUANTO O BRASIL AFUNDA, LULA BRINDA EM PARIS
Por Tiago Hélcias
É um misto de perplexidade e ironia o mais recente capítulo da novela política brasileira. Enquanto a pesquisa Quaest revela o derretimento histórico da popularidade do governo Lula, o protagonista da história prefere brindar com champanhe francês em hotéis de luxo em Paris. Coincidência? Acho que não.
O DERRETIMENTO EM NÚMEROS
Vamos aos fatos, porque eles são teimosos e não se dobram a discursos populistas, não é? A pesquisa Quaest divulgada nesta semana mostra que a desaprovação ao governo Lula atingiu 57% dos eleitores brasileiros – o índice mais alto desde o início do atual mandato. Já a aprovação caiu para míseros 40%, também o menor nível registrado até agora.
Mas o que realmente chama a atenção não são apenas os números gerais, mas o derretimento em segmentos que historicamente foram a base de sustentação do PT. Pela primeira vez desde o início do mandato, Lula passou a ser mais desaprovado do que aprovado entre católicos e entre eleitores com ensino fundamental. Entre os mais pobres, a aprovação, que até março era maior, agora está tecnicamente empatada com a desaprovação.
É como se o “pai dos pobres” tivesse sido deserdado pela própria família. Uma tragédia grega em pleno samba brasileiro.
No Sudeste, região que concentra o maior colégio eleitoral do país, os números são ainda mais catastróficos: 64% desaprovam o governo (eram 60% em março), enquanto apenas 32% aprovam (eram 37%). Nem mesmo o Nordeste, tradicional reduto petista, está imune ao desencanto: embora Lula tenha se recuperado ligeiramente na região (54% de aprovação contra 44% de desaprovação), os números estão longe do apoio maciço de outrora.
O ESCÂNDALO QUE NINGUÉM QUER VER
O que explica esse derretimento? A pesquisa Quaest traz algumas pistas. Questionados sobre o escândalo do INSS e o aumento no Imposto sobre Operações Financeiras, 31% dos entrevistados afirmaram que o governo Lula é o principal responsável pelo desvio de dinheiro de aposentados e pensionistas. Sobre o IOF, 50% dizem que o governo errou ao manter o aumento para compra de dólares.
Traduzindo do politiquês para o português: o brasileiro está cansado de ver seu dinheiro sendo mal gerido, desviado ou simplesmente jogado pela janela. E falando em jogar dinheiro pela janela…
PARIS BEM VALE UMA FORTUNA (PÚBLICA)
Enquanto os números de sua popularidade derretem como sorvete no verão tropical, Lula decidiu que era hora de uma escapadinha para Paris. Não sozinho, claro. Acompanhado de uma comitiva digna de monarcas absolutistas, que inclui 8 ministros, 3 governadores e, obviamente, a primeira-dama.
A hospedagem? Apenas o melhor que o dinheiro público pode comprar. A comitiva presidencial se instalou em hotéis cinco estrelas com diárias que chegam a R$ 64 mil reais por noite. Isso mesmo, você não leu errado: sessenta e quatro mil reais por uma única noite de sono presidencial, o “sono dos anjos”.
Para colocar em perspectiva: um trabalhador brasileiro que ganha um salário mínimo precisaria trabalhar mais de 4 anos sem gastar um centavo para pagar UMA ÚNICA NOITE na suíte onde o “presidente do povo” descansa sua cabeça.
E não para por aí. O governo brasileiro desembolsou R$ 168 mil para um show de uma artista brasileira no jantar oferecido por Lula a Emmanuel Macron. Porque, aparentemente, não bastava o luxo do hotel – era preciso também um showzinho particular.
O TURISTA PROFISSIONAL
A viagem a Paris é apenas mais um capítulo da interminável turnê mundial de Lula. Desde o início do terceiro mandato, o presidente já visitou 34 países, sendo 9 deles na Europa, sua região preferida para “missões oficiais”. A comitiva para a Ásia em março deste ano, por exemplo, incluiu 220 pessoas e custou R$ 4,5 milhões aos cofres públicos.
Os números são ainda mais impressionantes quando olhamos o panorama geral: segundo dados da Controladoria-Geral da União, o governo Lula acumulou despesas de R$ 789,1 milhões com diárias, passagens e locomoção – o maior valor registrado na série histórica.
Para se ter uma ideia da magnitude desses gastos, em apenas dois anos e meio, Lula já superou os gastos com viagens dos quatro anos do governo anterior. É como se tivéssemos elegido não um presidente, mas um turista profissional com cartão corporativo ilimitado.
A REPERCUSSÃO QUE NÃO EXISTE
O mais curioso por aqui no velho mundo, é o silêncio ensurdecedor da imprensa internacional sobre o derretimento da popularidade de Lula. Enquanto jornais e sites europeus costumam repercutir pesquisas eleitorais de países como Estados Unidos, França ou Alemanha, o tombo histórico de Lula parece não despertar o mesmo interesse.
Por que será ?
Aqui em Portugal, onde a comunidade brasileira é expressiva e os laços históricos são profundos, o assunto praticamente não existe nos grandes veículos. É como se houvesse um acordo tácito para preservar a imagem do “estadista” que já foi chamado de “o político mais popular do mundo”.
Talvez seja mais conveniente para a narrativa progressista europeia manter a ilusão de que Lula ainda é o líder carismático e popular que um dia possa ter sido, ignorando os sinais claros de desgaste e rejeição.
ESQUERDA CAVIAR
O que torna essa situação ainda mais irônica é o paradoxo que ela revela. Lula construiu sua carreira política como defensor dos trabalhadores, dos pobres, dos excluídos. Seu discurso sempre foi marcado pela crítica aos privilégios das elites e pela promessa de um Brasil mais justo e igualitário.
No entanto, o que vemos hoje é um presidente que, enquanto seu governo é reprovado por 57% dos brasileiros e perde apoio até entre os mais pobres, se dá ao luxo de gastar bilhões em viagens internacionais, hospedando-se em suítes que custam mais do que muitos brasileiros ganham em anos de trabalho.
É o velho ditado em ação: “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.”
O QUE ESPERAR DAQUI PARA FRENTE?
A pesquisa Quaest traz ainda outro dado preocupante para o futuro político de Lula: 66% dos brasileiros são contra sua candidatura em 2026. Apenas 32% apoiam uma tentativa de reeleição. É um cenário desolador para quem já foi o político mais popular do Brasil.
O derretimento da popularidade de Lula não é apenas um problema para ele ou para o PT. É um sintoma de um desencanto mais profundo com a política brasileira como um todo. A sensação crescente de que, independentemente de quem esteja no poder, os problemas fundamentais do país – desigualdade, corrupção, violência, inflação – permanecem sem solução.
Enquanto isso, o presidente prefere brindar em Paris, longe dos problemas e das críticas, gastando o dinheiro do contribuinte em hotéis de luxo e jantares suntuosos. Talvez seja mais fácil governar à distância, onde o cheiro da crise não alcança as narinas presidenciais.
Mas a realidade, como mostram os números da Quaest, é implacável. E nem todo o champanhe francês será capaz de afogar o descontentamento crescente dos brasileiros com um governo que prometeu muito e, até agora, entregou pouco, quase nada, além de mais escândalos, impostos e uma coleção impressionante de carimbos no passaporte presidencial.
De Portugal, observo esse espetáculo com a distância geográfica que me permite ver o quadro completo, mas com o coração ainda pulsando no ritmo brasileiro, preocupado com os rumos de um país que parece eternamente condenado a repetir seus erros.
Enquanto o Brasil afunda, Lula brinda em Paris. E a conta, como sempre, fica para o povo pagar.
Até quando?
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