STF SEM FREIO: UM SEMAMA DE BLINDAGEM, PENDURICALHOS E O POVO BRASILEIRO DE JOELHOS


A Semana em que o STF Mostrou Quem Manda — e o Brasileiro Pagou o Ingresso Sem Saber

Tem semana que parece roteiro. Tem semana que parece aviso. E tem semana, como esta, em que o STF resolveu lembrar ao país — sem rodeios, sem pudor e com uma coreografia quase ensaiada — quem realmente dita as notas da partitura institucional brasileira.

Foi um daqueles capítulos em que o cidadão abre o jornal, olha em volta, suspira… e percebe que virou figurante de luxo num espetáculo onde o preço do bilhete não é opcional. Você paga, mesmo quando não pediu pra entrar no teatro.

E o roteiro? Quatro atos. Todos protagonizados pela Corte que deveria ser o ápice da transparência, do equilíbrio e da contenção. Mas que, nos últimos dias, decidiu testar os limites da paciência nacional.

ATO 1 — O Fechamento do Cerco: Impeachment só com benção do PGR

O primeiro ato foi um verdadeiro “golpe de caneta”. Uma decisão monocrática que restringiu quem pode pedir impeachment de ministros do STF. Agora, só o Procurador-Geral da República tem essa chave. O resto — cidadãos, instituições, Senado — virou plateia.

A Lei do Impeachment, que por décadas deu ao povo o direito de provocar o Senado, foi esvaziada. Não por uma mudança legislativa. Não por consenso. Mas por interpretação judicial.

O recado? Simples: controle externo, só quando o STF quer.

O efeito? Nem precisa traduzir.

Blindagem institucional com assinatura, data e carimbo.

ATO 2 — O Sigilo que Protege, Seleciona e Silencia

O segundo ato é digno de thriller político: o caso do banqueiro Daniel Vorcaro, do Banco Master, investigado por gestão fraudulenta. O STF, por meio de um ministro, decretou sigilo máximo. Não sigilo comum. Sigilo de cofre.

Num país em que investigações de menor porte vazam antes de amanhecer, ver um caso desse porte envolto em neblina judicial é, no mínimo, curioso. Ou didático.

Porque o sigilo, você sabe, existe sempre “pelo bem da investigação”. Mas só quando envolve gente grande, rica e bem relacionada ele se torna absoluto. A seletividade não está escrita em lei — está escrita no comportamento.

E o brasileiro observa. Anota. E compara.

Infelizmente, a comparação não favorece o discurso de transparência.

ATO 3 — A Remuneração “Indigna” dos Juízes e o Retorno dos Penduricalhos

No terceiro ato, o ministro Alexandre de Moraes resolveu falar de dinheiro. Disse que os juízes precisam de uma remuneração “mais digna”. E defendeu a volta do quinquênio, o velho adicional por tempo de serviço, aquele penduricalho que estoura o teto constitucional com a mesma facilidade com que se estoura uma bola de soprar.

É um debate justo? Claro. No papel, sempre é.

Mas acontece no mesmo país onde a sociedade luta contra inflação, juros altos, desemprego, endividamento recorde e serviços públicos esvaziados.

Quando o topo da cadeia pública reclama de salário — enquanto já recebe o teto — o discurso perde brilho e ganha tom de desconexão. Parece mais autoproteção corporativa do que preocupação republicana.

E o brasileiro, de novo, assiste. Entende. E engole seco.

ATO 4 — O Cartão Amarelo que Ficou Branco

O quarto ato veio do futebol, mas seu impacto é institucional.

O STF decidiu que forçar um cartão amarelo para beneficiar apostas não configura crime de manipulação penal.

A justificativa? Não muda o resultado da partida.

Mas muda algo ainda mais sério: a confiança no jogo.

Num país tomado por casas de apostas, investigações, escândalos e redes de manipulação, a mensagem é devastadora. O ato é pequeno, mas o efeito não. Passa-se a impressão de que a fraude “de leve” pode ser relativizada. De que corrupção só importa quando muda o placar final.

A integridade vira um detalhe.

E detalhe, no mundo do esporte, é tudo.

O Ponto Cego: o Brasileiro, Passivo, Pagando a Conta

Ao fim desses quatro atos, sobra a imagem que viralizou:

“E o brasileiro? Assiste tudo… pagando ingresso involuntário.”

É exatamente isso.

O cidadão não vota em ministro.

Não escolhe o PGR.

Não decide o sigilo.

Não aprova penduricalho.

Não participa da hermenêutica que muda o jogo.

Mas paga a conta — financeira, institucional e moral.

E paga caro.

Porque cada decisão dessas, analisada isoladamente, já causaria debate.

Mas juntas… juntas formam um mosaico claro:

um Judiciário que atua muito, explica pouco, se protege muito e se submete pouco ao escrutínio público.

O problema não é julgar.

É julgar demais quando convém, de menos quando interessa e nunca quando toca em seus próprios privilégios.

No final da semana, não foi apenas o STF que pautou o Brasil.


Foi o STF que expôs, mais uma vez, o tamanho do fosso entre a Corte e quem deveria ser o verdadeiro centro de poder: o cidadão comum.

E de tudo isso, sobra uma certeza incômoda:

O ingresso é involuntário.

A permanência é obrigatória.

E o espetáculo não tem intervalo.



Tiago Hélcias é jornalista com quase três décadas de vivência no front da notícia — do calor das ruas aos bastidores da política. Atua como apresentador, redator e produtor de conteúdo em rádio, TV e plataformas digitais. É pós-graduado em Marketing Político, especialista em Comunicação Assertiva e mestrando em Comunicação Digital em Portugal.

Aqui no blog, escreve com liberdade, opinião e um compromisso claro: provocar o leitor a pensar fora da caixa.

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